quarta-feira, abril 25, 2007

SAUDADE DO ABRAÇO (Textos para ler e deitar fora III)






(...) E é neste pós-hora...
Onde o tempo se derrama e une ao espaço
Que revejo o necessário, mas perdido abraço.
E sinto que ele me olha... abraço feito vida...
Como se me pedisse para adiar a partida.

E o meu sentir, transparente,
Mostra-lhe o que sinto...
Coração testemunha que não minto...
Até o que procurei esconder de mim no fundo da alma...
Que abri... desvendei... revelei...
Como local de passagem secreta que ao meu anjo dei...

As poesias...
emoções em frágeis e codificados fragmentos...
Risos e lamentos...
Mas sempre incompletas no livro de cada vida...
Mesmo quando pensamos que um fim
é um ponto final...
Surge outro e ainda outro portal.
Interminável ponte.
E o suspiro, ao contemplar o horizonte...
Estreito, pequeno, ínfimo, para um eterno amor...
É todo o outro (lado) que me faz falta...
Saudade do abraço...
Certeza da dor.

Destino de pássaro,
tem asas no querer e murmúrios por dizer.
E nos meus cabelos, que teimam em voar...
e os meus olhos tapar...
Leio horóscopos, desenho mapas, deito cartas...
Plenas do vazio que a tua ausência me ofereceu.
Deixando-me só com meio eu.

Com os dedos, traço a linha dos meus lábios...
Calados... salgados... do teu nome tatuados.
Devagar...
Como se escrevesse a palavra que ficou por dizer.
Dissolvida num instante de indecisão...
Limite entre o sim e o não.

E ao fechar os olhos, desato nós, desfaço laços,
solto os braços...
Para o prometido abraço... enlaço.
Como se a tua memória feita imagem
Pudesse viver para além de ti...
Agora... aqui...

E sorrio...
Todo o encontro é perfeito
Quando guardamos tudo o que sentimos nesta dimensão...
Dentro do cálice sagrado, contido no peito.

Ni*


(Texto roubado ao passado)



1 comentário:

João disse...

Ser apenas ser talvez uma folha ou uma pequena flor amarela numa seara alentejana aonde houvesse o calor do teu olhar