quinta-feira, dezembro 28, 2006

NEM AS LUAS TE SEGUEM... (Para ti, L.M.)

Murmuro o teu nome,
navio sem mastro,
no mar cujo sal
não soubeste amar.


Nem as aves,
nem as manhãs,
nem as luas te seguem.
Apenas as sombras.


Perdeste-te das margens
da verdade e da ternura.
...

Os corais apagam os brilhos
em luto pela tua deriva.

E agora?
Quem te dirá da praia branca
que sonhei para ti?

Nina






sexta-feira, dezembro 22, 2006

A ÁGUA QUE FALA CALOU-SE

«Ide dizer ao rei (...)
A água que fala calou-se» *
* Excerto da resposta do Oráculo de Delphos a Oríbase.
:.`*´.:
O instante, acreditei-o perfeito,
como semente frutificada...
Murmurei o teu nome,
incensei-o de mim.
Invoquei os sete elementos.
E acreditei,
ingenuaMENTE,
que tu vias a minha alma de ilha,
nos poemas de marear (mar e ar).
...
O teu destino deveria ter bebido a verdade.
E todas as ausências emergentes seriam caladas.
E todos os momentos seriam divinos e livres.
E as águas que falam nunca se calariam.
...
Porém, persistente,
crio em palavras o que nunca chegou a ser...
...
E celebro a tua chegada à minha nudez,
onde jamais vieste.
...
Nina

quinta-feira, dezembro 21, 2006

TODO O SAL


Através do meu coração passou um mar
Que ofereceu todo o sal ao meu olhar.
...
Nina

domingo, dezembro 17, 2006

METADE






METADE



Oswaldo Montenegro


(Texto que respeita a grafia original)



Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a platéia e a outra metade, a canção.

E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade... também.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

PRECE(S)

(Imagem - tradução muito livre: )
...
.
.
Que seja verde a erva (os campos) sobre a qual (os quais) caminhas.
Que sejam azuis os céus (que avistas) sobre ti.
Que sejam puras as alegrias que te rodeiam.
E que sejam VERDADEIROS os corações que te amam.


(...)
May the road rise to meet you,
May the wind be always at your back,
May the sun shine warm upon your face,
The rains fall soft upon your fields;
And until we meet again,
may God hold you in the hollow of His hand.
*


(Tradução livre:)
...
.
.
Que a estrada se abra à tua frente,
Que o vento sopre levemente e a teu favor,
Que o sol brilhe quente no teu rosto,
Que a chuva caia suavemente nos teus campos,
E, até que nos encontremos de novo,
Que DEUS te guarde na palma das Suas mãos.
...
.
.
.
.
(Hoje, por ti pai, sorrirei, ainda que me doa profundamente a tua ausência.)



domingo, dezembro 10, 2006

LISBOA, em Dezembro... e um poema...



Tríptico
II

Herberto Helder



Não sei como dizer-te que minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
- eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.

Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros
ao lado do espaço
e o coração é uma semente inventada
em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia,
tu arrebatas os caminhos da minha solidão
como se toda a casa ardesse pousada na noite.
- E então não sei o que dizer
junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.
Quando as crianças acordam nas luas espantadas
que às vezes se despenham no meio do tempo
- não sei como dizer-te que a pureza,
dentro de mim, te procura.

Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto
correr do espaço -
e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega
dos meus lábios, sinto que me faltam
um girassol, uma pedra, uma ave - qualquer coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto,
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe, o amor,

que te procuram.


...

Lisboa... única.
Herberto Helder... sublime.
...

Fazem-me bem.

Ni*