terça-feira, janeiro 04, 2011

AS CEREJEIRAS JÁ FLORIRAM NO MEU PEITO, AMOR...

Para quem, como eu, ama as cerejeiras... para quem, como eu, ama Neruda...
«Quero fazer contigo o que a Primavera faz com as cerejas...»...


Podia dizer-te que me fazes falta.
Podia contar-te como as minhas mãos me contam dos seus gestos suspensos, porque tu não estás para acabar o verso.
Podia falar-te da vontade de desenhar reticências de chuva, com os silêncios que me escorrem dos olhos.
Podia dançar-te, num murmúrio de voz que te envolvesse em aromas de pomares, de tulipas e de afectos.
Podia voltar a dizer-te que me fazes falta no beijo há tanto tempo adiado, que trouxesse tudo com ele... o mar, as ondas, as gaivotas, as conchas, a vontade de ficar, o teu perfume, invencível, na memória da minha pele.
(...)
Mas eu calo-me. Espero que tu saibas. Espero que tu sintas tudo o que te poderia dizer em cada momento que deixo por aí, livre, entregue ao som do vento, que insisto em oferecer diluído em abraços. Como toque de areia fina. Como toque de acaso encantado.

Espero que tu saibas. Espero que tu sintas.


É que as cerejeiras já floriram no meu peito, amor...


Ni, in Cartas a Um Amor Futuro
(s.d.)

segunda-feira, janeiro 03, 2011

À DISTÂNCIA DO FICAR...



O abraço deles enciumou de espanto as luas, na eternidade daquele momento que sabiam roubado à corrente dos dias. E o tempo era uma data sem números... e o espaço era uma pátria só deles, cujo nome era feito de palavras renovadas e puras, emudecidas de prazer...
Ela deixou fluir da voz a lágrima engolida, embalada pela aragem quase quente de muitas vontades reaprendidas, num regresso a um sentir que continha vidas e mares, desertos e violinos, gôndolas e frutos maduros. E sonhos. Muitos. E murmurou-lhe '-Não vás...', como quem lhe desenha na palma das mãos o destino fugidio que estava ali... à distância do ficar...


Ni*