sábado, setembro 29, 2007

«MESMO PERDIDA, VEJO COMO TUDO É PERFUMADO E BELO...»

(Foto: Bruno Abreu)
~*~


"... mesmo perdida, vejo como tudo é perfumado e belo.
Mesmo sem saber se jamais chegarei, apetece-me rir e cantar em honra da beleza das coisas.
Mesmo neste caminho que eu não sei onde leva, as árvores são verdes e frescas como se as alimentasse uma certeza profunda.
Mesmo aqui onde a luz poisa leve nos nossos rostos como se nos reconhecesse,
estou cheia de medo e estou alegre..."

Sophia de Mello
Breyner Andresen


~*~

Ninguém o diria melhor...
Hoje, num dia em que choveu e eu também.
Hoje, numa noite em que a lua está decrescente e tu, na minha vida, também.


Ni*

momentUS de REVER...





"YOU'RE THE CLOSEST TO HEAVEN THAT I'LL EVER BE ..."
(Antes de visionar, pare a música de fundo do blog... )

«And I don't want the world to see me
Cause I don't think that they'd understand
When everything's made to be broken
I just want you to know who I am»
...
(Pena não teres sabido...)
...
Há algo azul na tua essência...
Voo sagrado, sem partida, sem ausência...
Talvez transportes contigo a claridade do céu de Abril!
Talvez espalhes no meu corpo estrelas por nascer, cor de anil...
Talvez surjam do teu sorriso os pássaros que me libertam a alegria...
Talvez tu, só tu, me reconheças atrás da sombra... e faças a alquimia...
A noite é dia!
Há algo azul na tua essência...
Cálice irmão do Graal, negação do mal, que guarda a nossa inocência...
Talvez esteja nos teus olhos de água cristalina a luz musical, imaterial, dádiva divina!
Talvez sejas a certeza de um caminho, a única rua sem esquina...
Talvez habite em ti o meu anjo! No teu abraço, na tua ternura, no teu enlaço...
Talvez tu, só tu, ouças o meu canto, outrora calado, outrora pranto...
E do meu querer-te, tão singelo, tão menina ainda... talvez só tu saibas o quanto...
Há algo azul na tua essência...
Aroma de sol, sabor de rouxinol, som de nuvem.... vício sem dependência...
Talvez toques o meu nome, o meu eterno sinal...
Talvez conheças a senha do meu portal atemporal...
Talvez sejas da minha terra o sal...
Mas há algo azul na tua essência... talvez a cor da minha existência!

Nina
... num tempo diluído no tempo

quinta-feira, setembro 27, 2007

«À VELOCIDADE DA MINHA SOLIDÃO»


(Foto: Luís Lobo Henriques)

«(...) amanheço dolorosamente, escrevo aquilo que posso
estou imóvel, a luz atravessa-me como um sismo
hoje, vou correr à velocidade da minha solidão.»

Al Berto



Tenho o olhar escondido nas mãos
que cheiram a ilhas desertas de ti.
...
As aves traçam rumos de ida
e a tua voz vai com elas.
E tu segues a tua voz.
...
Tenho medo que não regresses do invisível.
Tenho medo de (te) pensar
«à velocidade da minha solidão.»
...
Ni*


(... já que falaste em 'Medo', Cleo... Tenho medo do medo.)

OUTONICES











terça-feira, setembro 25, 2007

E ELA SORRIU...



Olhou-se olhos nos olhos. Se os espelhos não mentem... os seus olhos gritavam-lhe para voltar a sorrir, de tão cansados que estão das rotas de sal. Ousou. Olhou-se de novo nos olhos, que a empurraram para fora do caminho habitual da fuga, e a resgataram, obrigando-a a ver-se. E ela viu a ausência de uns dedos que afagaram os seus cabelos. Estava lá a forma. A forma do afago dele, feita memória. No seu cabelo longo e escuro como a noite dos amantes, que se espraiam pelas horas, adiando a madrugada. Foi então que, suave e lentamente, mergulhou os seus dedos compridos e finos no cabelo molhado, que gotejava sobre a sua nudez. E sentiu a sua força, como asas que de repente descobrem que voar não se desaprende. Os olhos, pediam-lhe agora 'Sê Feliz!'. E ela sorriu para si mesma, como não o fazia há muito, muito tempo.


Ni*

quinta-feira, setembro 20, 2007

Pessoa(S)... um blog partilhado com os meus alunos

Um blog partilhado por muitas pessoas, que nasceu tendo por núcleo o estudo que vamos fazer juntos da obra de Fernando Pessoa.
A eles, aos meus alunos, o meu 'obrigada' por tudo o que me dão, por tanto que me ensinam...
'Trouxe' de lá este post:



Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!

Ler é maçada,
Estudar é nada.
O Sol doira
Sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.

E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...



Fernando Pessoa

A força das palavras usadas com mestria por Fernando Pessoa!
Sempre associei este poema à LIBERDADE, ao HOJE, ao agora, ao VIVER...
Mas... será que o Dever inviabiliza o Prazer?
Passo-VOS a palavra...

CC



sábado, setembro 15, 2007

MADRUGADA


...

E, de repente, todas as aves suspendem o voo. São leves, os teus dedos, quando se espraiam na seda e na espuma do meu ventre. Os meus olhos, calados, aceitam a fluidez de palavras retidas nos teus. Como se reconhecessem, de um momento etéreo, onde o tempo não é tripartido, todos os silêncios que necessitas de me contar. E a madrugada, acetinadamente, trocou o vazio pelo saber, como quem anuncia ao dia nascente que os amantes não têm horas, porque todas lhes pertencem...
...
Ni*

quinta-feira, setembro 13, 2007

A MEMÓRIA NÃO SE FECHA




"Dividi a minha vida em partes
Construí muros altos
Paredes grossas
Selei hermeticamente portas
Para me dividir
Separar em partes
Ser só
Lembrar só
Aquilo que queria ser.
Mas a força que habita
Esses quartos
Hermeticamente fechados
Minou paredes
Construiu túneis
Invadiu os outros quartos
Que selei, para proteger.
E murmura-me ao ouvido
Ri do meu esforço inútil
E relembra-me a cada instante
Que a memória não se fecha
Não há forma de a apagar
Não há onde me esconder. "


E.


...


Uma mulher. Escreve assim. Como quem, de repente, desvenda todas as mulheres que colocaram em gavetinhas (ainda que forradas a papel de seda e aromatizadas por flores secas, mas nunca mortas) as memórias da verdade do que são.

...

Esforço inútil, tens razão.

Nós somos a nossa memória.

segunda-feira, setembro 10, 2007

MEMÓRIAS

"Just because I don't like to fight, doesn't mean I can't fight".

sexta-feira, setembro 07, 2007

CONVERSAS COM A MINHA GATA... :)


Hoje, sentadas as duas na espreguiçadeira, ao olhar o arvoredo do jardim... a Igreja da Luz... o horizonte...
Sorriso.
Ni*

quinta-feira, setembro 06, 2007

...



(...)


Não procuro mais, não penso mais, sigo-me. Encontro-me ao olhar para o mar, devolvo-me ao pegar na caneta e ao fazer dela a espada com que me resgato e combato pelo que sou, pelo que sinto. Ainda que doa. Ainda que não entendas. E em cada dia, página branca e pura, derramo-me em azuis. E, sempre com a cabeça levantada, percorro os caminhos da memória e volto mais forte. Não minto, nem nas palavras nem nos olhos. Que me leia quem me saiba ler.

(...)


Ni*


«E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar... »

Fernando Pessoa



Só mesmo Fernando Pessoa para escrever estas coisas...
Só mesmo eu, para as ler em dias assim...

segunda-feira, setembro 03, 2007

CUMPLICIDADES



«(... ) Uma das coisas que mais o aproximava da mulher consistia precisamente em conseguir isso com ela sem necessidade de se vestir de frases, a capacidade de se entenderem num rápido soslaio e que nada tinha a ver com o conhecimento um do outro porque desde a primeira vez em que se encontraram fora assim, eram ambos então ainda muito novos e haviam-se quedado siderados com a estranha força oculta daquele milagre que com mais ninguém lhes sucedia, união tão perfeita e tão funda... (...)»


António Lobo Antunes in Memória de Elefante


...


E os meus olhos, mesmo sendo de outra cor, têm também a cor dos teus. E o mundo que eu não vi estava no teu olhar. E o mundo que eu vi estava em mim e tu soubeste-o. E tudo ficou em paz, nesta inquietação que nos leva sempre a tremer quando pensamos na pele do outro.

Tu sabes...

Sim, sabes. Embora o negues...
Ni*

domingo, setembro 02, 2007

«MOMENTO é um lugar...»

(Tratamento de imagem feito por mim, há algum tempo. Clique para aumentar)
PARA ESCREVER UM POEMA

Ni*


Para escrever um poema...
É preciso despir as asas...
Ser mulher... apenas.
Em plena nudez.
Sem vergonha.
Sem timidez!
Seguir o trilho no bosque,
sem guia, sem medo, guardiã do segredo.
Ainda que momentaneamente frágil,
pássaro em voo calado... adiado.
Ser barco sem receio da ousada viagem!
É preciso aceitar que o tempo, afinal, não existe...
E que «momento» é um lugar,
onde me poderei encontrar.

Para escrever um poema...
É preciso olhar e ver...
com a limpidez do brilho da chuva...
É preciso assumir e SER!
E mergulhar, mesmo sem saber nadar...
no lago das memórias...
Onde a lua deposita futuras histórias.
Ainda que me me chamem sonhadora...
Ainda que pensem que dos meus dedos se solta inútil ternura...
Que se esvai... não perdura.

Para escrever um poema...
Basta desnudar o coração...
e colar em cada palavra um pedaço de essência, de emoção...
Verdade, grito, alegria, dor e perdão.
É preciso deixar ir na maré a esperança,
um nome amado...
Até a Fé....
E esperar...
Que o mar de mim esvaído,
retorne como a madrugada...
E sentir-me de novo alada.

Nesse mágico instante, o poema surge...
como um suspiro,
murmúrio de dedos entrelaçados...
Sentires enlaçados,
mordidos lábios que sabem que o tempo urge!
...
E sorrir para o poema nascente...
Ainda que saiba ...
que ele é apenas um ínfimo olhar...
E que como tu(do)... irá passar.


Nina