domingo, abril 29, 2007

SE TU ME DEIXASSES...




Hoje, acenderia estrelas entre a tua pele e a minha. Derramaria nos teus lábios toda a ternura que te pertence. Libertaria as pombas azuis do lago das tuas memórias e voaria, eu, em ti. Traçaria com a minha língua o mapa húmido da rota dos navegantes que ousam e não temem as marés vivas. E diria às tuas asas que voar é possível e que o caminho é ascendente, em espiral, em murmúrios salgados e confluentes...



Se tu me deixasses...


Ni*

sábado, abril 28, 2007

TU...

Tu és as asas das palavras que em mim nascem.
Tu és a raiz dos poemas que em mim habitam.
...

Ni*


quarta-feira, abril 25, 2007

BARCOS QUE O HORIZONTE REJEITA... (Textos para ler e deitar fora I)



E é aqui, na memória,
que reconstituo os passos que me levaram ao centro de ti,
passando os ventos e os barcos,
mergulhando em pássaros e luas,
ouvindo a tua voz que não cessa.
Como um sopro, subindo por mim,
maré e monte, deserto e fonte, até ao cume da alma...


Lá...
Onde digo o teu nome,
num baptismo de espumas ébrias,
por entre o tumulto das saudades...
As que não se diluem em esferas, tempos, idades, esperas.

E sigo...
Dominando o leme que empurra este rumo de acaso.
Como se o destino não estivesse escrito na determinação dos teus lábios...

que se calam, negando-me a palavra...
como barcos que o horizonte rejeita...

E é na memória do teu ausente abraço, que o meu ser mulher se deita...

(...)

Nina, num momento...


(Texto roubado ao passado)

QUANDO O HORIZONTE DESAGUA NOS MEUS OLHOS... (Textos para ler e deitar fora II)





Há dias em que sinto o meu coração fragmentado em pedaços,
e nas minhas mãos, colocadas sobre o peito...
o sabor de lágrima de sal em estilhaços.

Portal aberto por um voo de ilusão que o atravessou,
porque nele não cabia tanto infinito...
Tanto reprimido e mordido grito.
Não de dor... não de amor, mas de vontade...
De viver o que me mostra a futura saudade.

Quando o horizonte desagua nos meus olhos...
a alma filtra os nomes, as palavras,
os sonhos, as luas de Janeiro, o cântico derradeiro...
as saudades... puras criações da nossa alma marinheira,
que busca o retorno ao sono e ao sonho...
Num lânguido abandono...

Não, não receio o destino.
Aprendi com o vento a preparar a minha vida
para ser um milagre vivido a cada momento...
Cada infinito e eterno momento...
Que é apenas a intersecção entre a minha vida actual e a minha vida seguinte.
Ou será a anterior?
Ou a que não terei, porque não a sonhei?

O que sei eu do momento?
Sei que não é mais do que o que não sei...
E é no silêncio que se aninhou no meu olhar
que os sonhos dizem verdades,
desenham realidades...
Como castelos de espuma no Mar.

Como me cativam as marés!
Bailo com elas a sua dança cósmica, inspirada pela lua.
De coração sem portas... de alma nua....
E no infinito azul quero dançar, dançar...
Até adormecer nos braços do luar...
Ou, quem sabe, do infinito... meu (amor) MAR...

(...)

MARninaMAR , num fragmento de momento...


(Texto roubado ao passado)

SAUDADE DO ABRAÇO (Textos para ler e deitar fora III)






(...) E é neste pós-hora...
Onde o tempo se derrama e une ao espaço
Que revejo o necessário, mas perdido abraço.
E sinto que ele me olha... abraço feito vida...
Como se me pedisse para adiar a partida.

E o meu sentir, transparente,
Mostra-lhe o que sinto...
Coração testemunha que não minto...
Até o que procurei esconder de mim no fundo da alma...
Que abri... desvendei... revelei...
Como local de passagem secreta que ao meu anjo dei...

As poesias...
emoções em frágeis e codificados fragmentos...
Risos e lamentos...
Mas sempre incompletas no livro de cada vida...
Mesmo quando pensamos que um fim
é um ponto final...
Surge outro e ainda outro portal.
Interminável ponte.
E o suspiro, ao contemplar o horizonte...
Estreito, pequeno, ínfimo, para um eterno amor...
É todo o outro (lado) que me faz falta...
Saudade do abraço...
Certeza da dor.

Destino de pássaro,
tem asas no querer e murmúrios por dizer.
E nos meus cabelos, que teimam em voar...
e os meus olhos tapar...
Leio horóscopos, desenho mapas, deito cartas...
Plenas do vazio que a tua ausência me ofereceu.
Deixando-me só com meio eu.

Com os dedos, traço a linha dos meus lábios...
Calados... salgados... do teu nome tatuados.
Devagar...
Como se escrevesse a palavra que ficou por dizer.
Dissolvida num instante de indecisão...
Limite entre o sim e o não.

E ao fechar os olhos, desato nós, desfaço laços,
solto os braços...
Para o prometido abraço... enlaço.
Como se a tua memória feita imagem
Pudesse viver para além de ti...
Agora... aqui...

E sorrio...
Todo o encontro é perfeito
Quando guardamos tudo o que sentimos nesta dimensão...
Dentro do cálice sagrado, contido no peito.

Ni*


(Texto roubado ao passado)



CATARSE (Textos para ler e deitar fora IV)



Abro a caixa do Inverno...
Tiro as cores que cobriram o verde, os ventos frios, branca parede,
os cânticos de chuva, os transbordantes rios...
de onde fugiram todos os pássaros...
Para locais, de memórias mais vazios.

Colho uma a uma, as folhas da nossa história.
E encosto-as ao peito...
Lá, onde adormecias, como em eleito leito.
Tento sacudir a tristeza das mãos e guardar apenas as rimas,
libertas de nãos.

Recolho as lembranças de uma certa saudade,
que se me colou ao longo cabelo...
O mesmo que tu tocaste... o mesmo que dizias cheirar a jasmim...
O mesmo que te cobria o rosto quando, mergulhando em ti,
mergulhava em mim.

...
E, sem olhar para trás, avancei em direcção ao destino...
Seguindo as linhas que me indicavam o horizonte,
afastando-me do teu abraço...


Foi apenas... um passo...

Nin@...^^


(Texto roubado ao passado... para ler e deitar fora)

segunda-feira, abril 23, 2007

SER FELIZ AGORA


«(...) Que fazer? Isolar o momento como uma coisa e ser feliz agora, no momento em que se sente a felicidade, sem pensar senão no que se sente, excluindo o mais, excluindo tudo. (...)»
...
Bernardo Soares (F.Pessoa) in 'Livro Do Desassossego'
...
«A arte tem valia porque nos tira daqui»
...
A emoção perante Pessoa...
Ni*

quinta-feira, abril 19, 2007

AS CEREJEIRAS JÁ FLORIRAM, AMOR...

(Foto: Pedro Martins)


Podia dizer-te que me fazes falta.
Podia contar-te como as minhas mãos me contam dos seus gestos suspensos, porque tu não estás para acabar o verso.
Podia falar-te da vontade de desenhar reticências de chuva, com os silêncios que me escorrem dos olhos.
Podia dançar-te, num murmúrio de voz que te envolvesse em aromas de pomares, de tulipas e de afectos.
Podia voltar a dizer-te que me fazes falta no beijo há tanto tempo adiado, que trouxesse tudo com ele... o mar, as ondas, as gaivotas, as conchas, a vontade de ficar, o teu perfume que ainda guardo, invencível, na memória da minha pele.

...

Mas eu calo-me. Espero que tu saibas. Espero que tu sintas tudo o que te poderia dizer em cada momento que deixo por aí, livre, entregue ao som do vento, que insisto em oferecer diluído em abraços. Como toque de areia fina. Como toque de acaso encantado.

Espero que tu saibas. Espero que tu sintas.

É que as cerejeiras já floriram, amor...


Ni*




segunda-feira, abril 16, 2007

POESIA E CHOCOLATE...


Em especial para a Cleópatra...
...
Nas tuas mãos guardas as luas azuis, e na boca as rubras cerejas, com que festejarás a festa do abraço... que só os teus olhos reconhecem.
...
Ni*


quarta-feira, abril 11, 2007

«ESTA VONTADE DE IR...»






É só um estado de alma...
É só um estado de alma...
É só um estado de alma...
...



IR

Ni

IR, nos braços da leveza...
do vento, estrada suave da pureza...
IR, soltar do cais os barcos da dor e tristeza...
IR... e o tempo e o espaço anular,
transmutá-los em flores para plantar...

Ah, IR... não é partir,
não é separar, não é quebrar...
É recomeçar!
É sentir que se é mar, nuvem, ave,
pedra, folha tenra, rio...
É não ter mais frio!

IR...
Duas letras, duas asas...
E um só sentir...

Liberdade...
Ausência de saudade...
Negação da solidão.
Casa reencontrada...
Cura de asa quebrada!

IR...
E ver tudo pela primeira vez...
O céu que ri, chora, fica sereno, silencioso...
E tocar cada abraço dado...
como instante alado, precioso.


IR...
E entender...
Que para a eternidade apenas SOU.
Sou tudo o que fui e o que sonhei ser...
E que nem um só gesto de ternura ficou por acontecer....


Nina

sexta-feira, abril 06, 2007

«SOU APENAS UM DESENHADOR DE MOMENTOS»






Junto ao barco aceito a minha chegada definitiva ao porto do tempo.
O vento insinuava-se nas velas e respirava o teu perfume como se o conhecesse.
O teu cheiro paira no meu ar e sei que andas perto e tu não sentes nada?
Nunca perguntes o que é a vida. Ela é sempre mais, ela está sempre além da resposta.
Talvez seja melhor perguntares se vives.
Terás a tua noção da vida, errada ou certa ninguém saberá, a não ser ela, a própria vida.
Vive juntando à tua existência bastante entusiasmo e se o fizeres, se isso for possível, estarás próximo do meu conceito, talvez seja melhor dizer, do meu sentimento de vida.
Cada vez mais acredito que é sempre o mesmo, o poema escrito.
O resto cai em lágrimas.
Nunca sei para onde me atirar de cabeça, apenas que todo o vencido é um vencedor.
E que o mar é imenso e que nunca pára.
Junto ao mar (o mar branco de espuma amiga) guardei uma pedra partida que me disse que só o amor e amizade se completam.
(E) em todos os sorrisos renasci.




~*~


João Sevivas, excertos escolhidos por mim e reunidos num poema renovado... sem o consentimento prévio do autor, (ai, que isto não se faz!).
*
Ni
*


João Sevivas: nasceu em Castro Daire, em 1954. Licenciado pela Universidade de Coimbra, exerce advocacia... e é um dos grandes poetas da actualidade.
Segundo as suas próprias palavras: «sou apenas um desenhador de momentos».
Obras: Flor de abril (1989), Para ti (1990), Peixinho solitário (1990), Fin del mal (1991), Los últimos momentos de una mentira (1992), El grito (1993), Os calos da alma (2001), Os sons da noite (2002), Cosas (2003), Redemoinho (2003), Momentos (2005), Terra (Alejo, 2007).


quinta-feira, abril 05, 2007

AQUI TE ESPERO, SOBRE A PONTE DAS CEREJEIRAS...



Jurei. Eu sei. E três vezes jurarei. Levanta os olhos da estrada. Caminho traçado por mapa, leva-te à terra do nada!
Guia-te pelas vontades, pelos concêntricos sinais. Ouve de ti mesmo as verdades, as danças descalças não as negues nunca mais.
E eu... sorrio, por este falar rimado, simples e cadenciado como letras roubadas a um fado.
Guia-te pelos meus dedos, senhores de segredos, ondulantes como corpos de amantes... que te tatuaram ao som do vento, num abraço que te ensinou a negar o lamento.
Jurei. Eu sei. É aqui que te espero, sobre a ponte das cerejeiras, nesta terra nossa, outrora de ninguém...


Ni*
(Na sequência de um texto do Coutinho Ribeiro, e de um texto/resposta da Cleópatra)

terça-feira, abril 03, 2007

E O CÉU FICA MAIS PERTO





Impetuoso, o teu corpo é como um rio
onde o meu se perde.
Se escuto, só oiço o teu rumor.
De mim, nem o sinal mais breve.
Imagem dos gestos que tracei,
irrompe puro e completo.
Por isso, rio foi o nome que lhe dei.
E nele o céu fica mais perto.

Eugénio de Andrade in 'As mãos e os frutos', 1948


segunda-feira, abril 02, 2007

«VOA EM MIM, MEU AMOR QUE ÉS...» (325º post)



Doem-me as palavras, meu amor, das mãos ausentes. Da ternura febril com que as derramo no silêncio das reticências, que tudo sabem e tudo calam. E tudo permitem, porque os seus pontos são vitais, respirações com voos de aves inomináveis, nunca finais. Tu existes, na vertigem da paz do mar que os teus olhos me contam. A minha boca, suave e cereja, desenha-te em risos a flor laranja que te surpreende. Recrio-te, no abraço de vento que te cruza as costas e me funde em ti. E eu tremo, quando o meu peito te respira contra o teu. É nas tuas veias que me diluo. Dou-me no sal das palavras que te beijam. Sentes-me? Nega o medo. Embarca nos meus olhos. Passa a margem, passa a tristeza, passa a negação da felicidade, passa limites de espaço e idade. É agora e aqui que somos. Aqui, meu amor. Aqui. Doem-me as palavras, meu amor, das mãos ausentes. Voa em mim, meu amor que és...


Ni*