quinta-feira, outubro 02, 2014

DEBAIXO DOS MEUS SILÊNCIOS...




Há quem escreva pela arte, pela linguagem que lhes nasce da genialidade (a minha escorre-me dos dedos), pela literatura. Esses, sim, são os escritores, os poetas. Eu só escrevo para acariciar. As palavras, uma memória, a mim mesma. E porque eu tinha que encontrar um modo de alongar os braços. E anular distâncias. E encontrar os pássaros sem medo de ir. Há muitas distâncias em mim (e uma enorme timidez). Há quem escreva grandes textos, grandes 'posts', grandes obras. Eu só escrevo bilhetinhos, onde as vírgulas são os meus olhos, e a seguir escondo-os, com todo o cuidado, debaixo dos meus silêncios. Por isso ninguém me lê...

*

CAMINHO DE PALAVRAS





Sem dizer um nome, vou até ti. Sem enunciar as pedras, sei que as piso. Cortantes. Como certas palavras. Por que as lançámos no caminho?
O vento é fresco. Sei que é vento, mas sabe-me a fresco ao mesmo tempo que a vento. E ele conhece a direcção onde tudo já é.
...
E porque a noite não tem limites... abro os meus braços e vou até ti, onde te imagino coberto pela nudez inocente do teu sono.
O caminho?
As palavras sabem-no...


ESQUECER-ME DE TI...

Esta manhã comecei a esquecer-me de ti.
Acordei mais cedo que nos outros dias
e com o mesmo sono.
A tua boca dizia-me "bom dia" mas não:
não o teu corpo todo como nos outros dias.
As sombras por aqui são lentas e hoje não
comprei o jornal: o mundo que se ocupe da
sua própria melancolia.
ontem. há uma semana. há muitos meses.
um ano ensina ao coração o novo ofício:
a vida toda eu hei-de esquecer-me de ti.

rui costa



Esta noite começo a esquecer-me de ti.
Esta noite. É esta a noite.
Nas horas em que as folhas das árvores, 
aqui em frente, anseiam por voos de Outonos 
e  respiram silêncios e são um mar,
ou um rio-raiz, talvez, nunca lhes perguntei,
as sombras lembram-me para te esquecer.
As tuas mãos, 
que se cruzavam no peito, na promessa do eternamente,
afinal... cumpriram apenas a última sílaba.
Mas esta noite começo a esquecer-me de ti.
Esta noite.
Ou talvez este Outono.
Com as folhas que também se irão para o país dos verdes nascentes.
Começo!
Daqui a um mês... ou um ano... ou a vida toda...
Começo!
Prometo-me que começo.

Talvez acabe daqui a duas vidas, ou três...
numa noite em que tu gritarás o meu nome
e eu já não me lembrarei do teu.


ni*


quarta-feira, outubro 01, 2014

NÃO HÁ SEMPRE NEM NUNCA ( ou há?)


«Nada do que é importante se perde verdadeiramente...
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.»
*
Miguel Sousa Tavares
~*~
SEMPRE: adv. semper, omni tempore (...) para sempre, in perpetuum, in omne tempus.
NUNCA: adv. nunquam, nullo tempore.
(in Dicionário de Português- Latim, Porto Editora)
*
Gostei da 'definição/tradução' de Sempre! Deixa na boca o travo a música ascendente.
Está decidido. Escolho o SEMPRE. A eternidade contida no momento.
Nunca, nunca mais!

(Post recuperado dos cerca de 800 que tenho em rascunho)