quarta-feira, dezembro 31, 2008

FELIZ 2009!!!

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Que tenhamos TODOS um FELIZ ANO de 2009!

Vamos acreditar que assim será!

FELIZ ANO NOVO PARA TODOS!

Ni*

terça-feira, dezembro 30, 2008

MAIS UM ANO DE VIDA...

Rumo a mais um ano... de vida!
*
Não foi um ano fácil...
Poderia escrever um post longo, uma catarse em forma de momentos escritos, mas... abri somente as janelas, as portas, os baús, as gavetas... onde guardo o meu melhor sorriso e deixo-o fluir. Sacudo da alma pós que não foram de encantar... e sigo... enfrentando o caminho, descobrindo-lhe a beleza em cada dia, como quem abraça o ritmo da paz num alívio anunciado... desejado e, espero, merecido.
...
Venha outro ano!
Continuarei a usar jeans, cabelo na sua cor natural... rebelde, comprido e bailado pelo vento...
*
Abraço-te, VIDA!
*
Hoje, dia 30 de Dezembro, às 00:30H...
Bem-Vindo meu novo ano de vida... com muitos, muitos momentUS felizes!!!momentos para sorrir! :)
*
Nina

*

domingo, dezembro 28, 2008

NÃO TE NEGUES...




Não te negues. Não te negues aos meus dedos, nem te faças improvável ao meu toque. O meu corpo grita pelo sal dos teus contornos e as minhas águas anseiam quebrar-se em ondas sobre ti. O sopro do sussurrar o teu nome atrai os pássaros da saudade pelo que serás para o meu peito. A tua ausência atravessa a noite em cada hora e mantém-me cativa e desperta, sempre alerta e inteira. Sinto-me a eterna espera, a eterna véspera do teu abraço. E sou tua, mesmo antes de saber-te. Mesmo que nunca me saibas. Sou tua em detalhes mínimos, nas latências, nas grandezas, nos desvarios e indecências. Então, vem... despe o medo, arranca a venda dos olhos da memória. Volta os passos, apaga o tempo. Reinventa o sonho e faz amanhecer o meu olhar.
*
«CARTAS A UM AMOR FUTURO» *
* Um projecto de projecto.

quarta-feira, dezembro 24, 2008

NATAL...






Alguns pormenores do Natal cá em casa...



(Um pequeno arranjo... em grande plano)

(A lareira... eco da lareira da minha infância, em Lamego, onde tantos Natais passei... em casa dos meus avós maternos. Saudades do tempo em que era feliz e tudo era tão simples. Como disse O poeta - Fernando Pessoa - 'raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira'.)

(Anjinhos irreverentes... gosto muito deles! :) )
(Anjinhos naifs.)


(Um menino, a quem chamam Jesus... que está na minha família há muito tempo. Os brocados e os veludos... são os sonhos, as esperanças... porque a realidade - do nascimento do menino que esta imagem simboliza - foi bem diferente. Ainda hoje... tantos e tantos meninos à espera de uma vida digna!)

(A rena Makarena...)





(E eis o... Abdul. Esta foto ainda não é a do perú deste ano. Há uns anos, o Diogo - o meu filho mais novo e muito sossegado :) - achou que era injusto o peruzito não ter um nome. E com a autoridade dos seus 5... 6 anos... nomeou-o Abdul I! A foto refere-se, portanto, ao Abdul VIII... IX, no seu banho aromático... em água, sal, limão, laranja, canela e whisky... o segredo para ficar com um sabor especial depois de cozinhado!)

:)

terça-feira, dezembro 23, 2008

FELIZ NATAL!!!



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AUTO-RETRATO



as regras da sensatez - rui veloso




Rui Veloso
As Regras Da Sensatez

Nunca voltes ao lugar onde já foste feliz
Por muito que o coração diga, não faças o que ele diz
Nunca mais voltes à casa onde ardeste de paixão
só encontrarás erva rasa por entre as lages do chão
Nada do que por lá vires será como no passado
Não queiras reacender um lume já apagado.

São as regras da sensatez
vais sair a dizer que desta, desta é de vez...

Por grande a tentação que te crie a saudade
não mates a recordação que lembra a felicidade
Nunca voltes ao lugar onde o arco-íris se pôs
só encontrarás a cinza que dá na garganta nós.

São as regras da sensatez
vais sair a dizer que desta, desta é de vez
só mais uma vez..

Ouçam o Rui Veloso... ele é sensato!

Ni*

segunda-feira, dezembro 22, 2008

AMO-TE, LISBOA! (III)

Lisboa dos contrastes, das vielas, das escadinhas, das esquinas, das colinas, dos miradouros, do castelo que nos (a)guarda, das perguntas, dos silêncios, das luzes, das penumbras, do entardecer, da noite. E do rio... da neblina, manto de encanto que nos embala. Da água inquietante das Tágides, que serpenteia em cada olhar feminino de Lisboa...

*
(Para ver as fotos no tamanho original... basta 'clicar' sobre elas)























domingo, dezembro 21, 2008

QUANDO OS ANJOS VESTEM DE PRETO E DANÇAM...

E de repente... mãos-asas-espadas-de-luz rasgam no ar as trevas. O fogo nos olhos-memórias de um guerreiro... activam poros salgados, misto de deserto, de lamento e de fados. Nos gestos adivinhados... o odor a ancestrais duelos finais, noutros planos travados. E de repente... a palavra faz-se dança, escrita num codificado bailado. A UM, num apelo para reencontrar quem quer a caminhar ao seu lado: a sua metade de asa... a sua casa.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

ASSUMO! MUDEI DE RUMO...





(...)

Ni*
(Conceição Castro)

Não recuo perante o querer.
Não desisto do crer.
Não adormeço a ousadia
sob os lençóis do tempo.
Nem me aprisiono ao medo!
Tenho sempre por rumo e destino
a alvorada no meu olhar.

Há sempre em mim uma súplica
Atraindo-me os olhos, os passos,
para o que chamam 'risco'.
Eu arrisco!
Espreita-me o desafio, o desconhecido...
Mas não cedo, tão cedo,
ao lago estagnado do caminhar comandado.

Sou de sóis, de luas e de lutas.
Antecipo-me a saber das flores
Que podem brotar nos meus caminhos...
Mesmo sob muralhas de espinhos,
Aspiro e respiro com avidez
a fragrância da vida!


Não submeto o meu coração
Aos ditames da busca da certeza.
Como o pão na cama
Faço amor sobre a mesa!
É de arrepios e estremecimentos
Que a pele também respira!

Permito-me a nudez da dúvida...
A partir de agora...
Caminho vestida de branco...
E só sei que amo a aurora...

Nada sei de gestos contidos
Solto-me em atitudes e sentidos!
Não escondo as impressões digitais
Das portas que vou abrindo.
Nem ponho luvas nas minhas mãos
Quando elas clamam por carícias...
...
Assumo!
Mudei de rumo.
Sou mulher que saboreia os jasmins
E já que todos os caminhos não têm fins...
Bebo as tuas palavras, faladas,
que têm o travo de framboesas e delícias.

Ni*
... num momento...

terça-feira, dezembro 16, 2008

domingo, dezembro 14, 2008

DIZ QUE TENHO SAL...

Vida em câmara lenta
8 ou 80
Sinto que vou emergir
Já sei de cor
Todas as canções de amor

Para à conquista partir

Diz que tenho sal
Não me deixes mal

Não me deixes

No livro que eu não li
No filme que eu não vi
Na foto onde eu não entrei
Notícia do jornal
O quadro minimal
Sou eu

Vida à média rés
Levanta os pés
Não vás em futebóis
Apesar do intervalo
Que é quando eu falo
Para não me incomodar

Diz que tenho sal
Não me deixes mal
Não me deixes

No livro que eu não li
No filme que eu não vi
Na foto onde eu não entrei
Notícia do jornal
O quadro minimal
Sou eu

Não me deixes
Na história que não terminou
Não me deixes

No livro que eu não li
No filme que eu não vi
Na foto onde eu não entrei
Notícia do jornal
O quadro minimal
Sou eu


Eles chamam-se "Per7ume".
E eu gosto. Muito. Hoje, em que me sinto uma lua rasgada daquele céu que desejo há tanto, tanto tempo.



DEZEMBRO... 14...

Hoje, 14 de Dezembro, seria o teu aniversário pai. Permaneces no sorriso do Filipe, no humor requintado do Diogo e no meu coração. No meu coração.

Este é o meu Dezembro... de extremos de emoções. De afectos. De ausências. De perdas, mas também de (e)ternas presenças...

(Fotos tiradas na noite fria, muito fria, de 13 de Dezembro, sobretudo depois de termos decidido «caminhar sobre as águas»... )































sábado, dezembro 13, 2008

«QUEM ÉS TU?»... UM BLOG ONDE O CHÃO DA ALMA É PARTILHADO...

*
E eu pergunto-vos se há algo mais belo do que ter como profissão a partilha de saberes, aprendizagens, vivências... com pessoas que escrevem e se dão assim?
Espreitem o blog.
Vale a pena!
...
(AMO esta gente!)
Ni*, a prof. CC :)

sexta-feira, dezembro 12, 2008

O RIO DAS PERDAS


O RIO DAS PERDAS


A equipa de psicólogos de um grande hospital pediu-me uma palestra sobre perdas.
Perdas de quê? Dinheiro, saúde, emprego, amor, juventude, beleza… perda da alienação quando se aproxima a morte, nossa ou de alguém próximo, desconstruindo tudo o que parecia sólido em nós?
Qualquer perda. Pois, no trabalho deles, lidavam com isso o dia todo.
O que podia eu dizer a esses competentes profissionais que diariamente enfrentam os dramas que afluem a um hospital, aquele rio de perdas que se enfia por todos os cantos, atrás de cada porta ou biombo atingindo alguém com todo o direito de chorar ?
Então procurei ser simples: falar das naturais dificuldades em lidar com qualquer perda - também fora do contexto hospital, saúde, vida e morte.

Primeiro, não queremos perder.
É lógico não querer perder. Aliás, nem deveríamos ter de perder nada: saúde, pessoas, posição, dignidade ou confiança. Mas uma constante alternância de ganhos e perdas forma em parte a nossa humanidade ameaçada. Nós somos também isso.

Segundo, perder dói mesmo.
Não há como não sofrer. É tolice dizer "não sofras, não chores". Também o luto e a dor são importantes - desde que não nos paralisem demasiado por demasiado tempo.

Terceiro, precisamos de recursos internos para enfrentar a dor.
O apoio dos outros é relativo e passageiro. A força decisiva terá de vir do nosso interior, onde se depositou a bagagem da nossa vida. Lidar com a perda vai depender do que encontramos ali: se nesse lugar crescem árvores sólidas, teremos onde nos agarrar. Se houver apenas plantinhas rasteiras, estaremos mal. Por isso, aliás, a tragédia faz emergir forças insuspeitadas em algumas pessoas, e para outras aparece como uma injustiça pessoal ou uma traição da vida.
Uma doença grave, um insulto à dignidade ou o esvaziamento da nossa confiança deixam-nos encurralados. Já não vemos sentido em nada, e isso será mais difícil se até ali corremos desnorteados no tempo em que, sem reflectir nem apreciar, ainda possuíamos isso que agora perdemos.
Não acho que seja preciso alta filosofia nem devoção ardente, nem acredito em muita teorização sobre o sentido da existência.
Mas creio numa expressão algo fora de moda, que no meu caso não tem conotação religiosa: vida interior. Que é o espaço da ética, dos afectos, da humildade e da coragem, da visão da nossa transcendência. Somos parte de um misterioso ciclo vital que é o da própria natureza, e nos confere sentido. Dentro dele, mesmo sendo insignificantes, temos grandeza. Mesmo sendo muito jovens, podemos ser maduros.
Por tudo isso, que não compreendemos mas podemos sentir, a vida vale a pena - também quando o mundo parece desabar sobre nós ou arrancar-nos das mãos aquela última pequena e pálida esperança.


Lya Luft

UM ANJO POR COMPANHIA...

quinta-feira, dezembro 11, 2008

TRABALHO, MÚSICA, (DES)CAFÉ E CHOCOLATE...




Por 'aqui', a trabalhar... sem previsão de hora para terminar, talvez até que o cansaço me doa (ainda mais), aproveitando a concentração que o silêncio da noite sempre me ofereceu, ao som de Budha Bar III, bebendo descafeínados Dolce Gusto... seguidos de Pastilles Droste... misturando sentires, sabores... odores. E o prazer, quase lascivo, do chocolate que se enrola na minha língua, transporta-me à ilha-secreta-que-há-em-mim. E sorrio.

Ni*



segunda-feira, dezembro 08, 2008

PRECE...

PRECE (Post antigo recuperado...)



E na Tua presença, que me preenche os vazios,
na água sagrada, corrente na veia dos rios,
eu elevo uma única prece...

Que eu saiba sempre encontrar o trilho até Ti...
Sete Caminhos cruzados,
sete elementos com o TODO partilhados.
Que não retorne ao que já percorri.
Que os meus passos sejam de VIDA.
Que a minha busca ousada seja permitida.

Dá-me a sabedoria de intuir,
da energia deixar fluir.
Luz- SOL- Fogo e Brilho - LUA - Resplendor,
anfitriões da alegria fértil e jamais da dor.
Duas faces do TODO...
UNO
ao encontro predispostos
e nunca opostos.

Conduz o meu pensamento,
como criança confiante,
até ao coração da verdade com que me dou.
EU SOU.

E nos momentos de solidão...
mostra-me que nem sempre um sim
é melhor do que um não.
Que o círculo sagrado se complete e me fortaleça.
Que a força do Universo,
que eu canto em cada música de palavra feita verso,
me toque com a leveza do vento,
a profundidade do mar,
a estabilidade da Terra,
a firmeza da rocha.
Que assim aconteça.

Que assim seja, que assim se faça!
Assim já É.

(...)

Nina



sábado, dezembro 06, 2008

EMBALA-ME NOS TEUS OLHOS TERNOS...

O Coutinho Ribeiro, Manel como lhe chamo, do blog O ANÓNIMO, escreveu um texto SOBERBO: «Palavras lavadas pela manhã clara». Próprio de um homem em estado de graça, que faz das palavras magia. Gostei de o voltar a ler assim.

O Manel está a comemorar o 2º aniversário do blog e desafiou os/as amigos/as a escreverem um texto. Talvez seja do frio, ou do cansaço, ou por não me sentir no tal 'estado de graça'... mas o que escrevi, a partir do texto dele... é... um mero postal dos correios face a uma obra em dez volumes. :)

Só que não podia deixar de participar nesta comemoração-homenagem a alguém que estimo muito.


E saiu...'isto':




(O possível pensamento 'dela', em simultâneo com o teu... descrito brilhantemente no teu texto)


EMBALA-ME NOS TEUS OLHOS TERNOS.

Ouço-me, frente a ti, a falar da chuva que marcou encontro bailado com o frio, e a minha voz segue, sem que eu a acompanhe, porque toda eu me aninhei na tua mão, que desenha na minha caminhos cruzados. Não quero falar do tempo. Nem dos anos que nos marcaram, a silêncio-ferro e mágoa-fogo, nem dos ventos que nos atravessaram. Cortantes, lâminas mutiladoras, impiedosas, de quem soubemos proteger a nossa inocência. A minha, guardo-a nos olhos, onde criei refúgios em horizontes líquidos e silêncios sem muros. Não temo que me saibas. Que me leias. Nem entendo o porquê da minha mão, quase adormecida num porto de abrigo (que não prende, apenas me convida a ficar, como quem vela pelo meu sono), se esgueirar, em sucessivos sobressaltos, como criança tímida a quem perguntam o nome. Os meus olhos não têm portas fechadas. São casas habitadas por sonhos guardados com ternura, em arcas sem fechaduras, como quem guardou o calor dos risos da infância ou a cumplicidade dos primeiros passos ao lado de outros passos. Tenho medo que penses que tenho medo. Gostaria que me dissesses que sabes que não quero falar do tempo. E que o meu olhar pode encontrar no teu um Norte e também um Nascente. Gostaria de te segredar que era apenas atrás da esperança de ti que percorri o mundo, mas tu partias sempre na véspera de eu chegar. Agora que estás aqui... embala-me nos teus olhos ternos.

Ni*


quinta-feira, dezembro 04, 2008

CADEIRA VAZIA...





Este Natal, mais um sem ti, vai-me doer a cadeira vazia, onde gostaria que te sentasses...


(AMO-TE PAI!)



Nina

quarta-feira, dezembro 03, 2008

ÍNFIMOS INFINITOS (II)

Partilha de excertos de livros que me calaram as palavras... porque as diziam por mim.

Uma palavra. Disse-a. Amo-te - uma palavra breve. Quantos milhões de palavras eu disse durante a vida. E ouvi. E pensei. Tudo se desfez. Palavras sem inteira significação em si, o professor devia ter razão. Palavras que remetiam umas para as outras e se encostavam umas às outras para se aguentarem na sua rede aérea de sons. Mas houve uma palavra - meu Deus. Uma palavra que eu disse e repercutiu em ti, palavra cheia, quente de sangue, palavra vinda das vísceras, da minha vida inteira, do universo que nela se conglomerava, palavra total. Todas as outras palavras estavam a mais e dispensavam-se e eram uma articulação ridícula de sons e mobilizavam apenas a parte mecânica de mim, a parte frágil e vã. Palavra absoluta no entendimento profundo do meu olhar no teu, palavra infinita como o verbo divino. Recordo-a agora - onde está? Como se desfez? Ou não desfez mas se alterou e resfriou e absorveu apenas a fracção de mim onde estava a ternura triste, o conforto humilde, a compaixão. Não haverá então uma palavra que perdure e me exprima todo para a vida inteira? E não deixe de mim um recanto oculto que não venha à sua chamada e vibre nela desde os mais finos filamentos de si? Uma palavra. Recupero-a agora na minha imaginação doente. Amo-te. Na intimidade exclusiva e ciumenta do nosso olhar mútuo e encantado. Fecha-nos o lençol na claridade difusa do amanhecer, estás perto de mim no intocável da tua doçura. Frágil de névoa. Fímbria de sorriso e de receio, de pavor, no meu olhar embevecido. Uma palavra. A primeira que em toda a minha vida me esgotou o ser. A que foi tão completa e absorvente, que tudo o mais foi um excesso na criação. Deus esgotou em mim, na minha boca, todo o prodígio do seu poder. Ao princípio era a palavra. Eu a soube. E nada mais houve depois dela.

*
Vergílio Ferreira, in 'Para sempre'

_________*_________

Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
magoa, que se limita à alma; mas que não deixa,
por isso, de deixar alguns sinais - um peso
nos olhos, no lugar da tua imagem, e
um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes
tivessem roubado o tacto. São estas as formas
do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
as coisas simples também podem ser
complicadas, quando nos damos conta da
diferença entre o sonho e a realidade. Porém,
é o sonho que me traz a tua memória; e a
realidade aproxima-te de ti, agora que
os dias correm mais depressa, e as palavras
ficam presas numa refracção de instantes,
quando a tua voz me chama de dentro de
mim - e me faz responder-te uma coisa simples,
como dizer que a tua ausência me dói.

*
Nuno Júdice, in 'Pedro Lembrando Inês'

__________*__________

Apenas uma palavra. Uma súplica apenas. Apenas uma aragem.

Apenas uma prova de que ainda estás vivo e à espera.

Não, nada de súplicas, apenas um respirar, respirar não,

apenas estar pronto, estar pronto não, apenas um pensamento,

um pensamento não, apenas o sono tranquilo.

Não há ter, apenas Ser, apenas o Ser que reclama o último alento,

a morte da respiração.

Nada disso - atravessando as palavras há restos de luz.


Franz Kafka, in
'Parábolas e Fragmentos'

______________*____________

"Ah, não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram!"


Bernardo Soares (1), in "Livro do Desassossego"(2)

(1) Heterónimo de Fernando Pessoa

(2) O livro que, se não existisse, tudo seria ainda mais incompleto. O meu livro de cabeceira.



segunda-feira, dezembro 01, 2008

ÍNFIMOS INFINITOS


*
Partilho excertos de livros de que gostei. Talvez alguém que por aqui passe leve consigo a vontade de os ler, ou oferecer. Oferecer um livro a alguém é como escrever uma carta a essa pessoa. Ou muitas. Diariamente. Em cada segundo, que deixa de ser tempo e passa a ser afago. Para sempre. É. Para sempre.

Hoje, inaugurei no meu sorriso o meu mês 'de extremos'. Mês em que escolhi nascer. Mês em que o frio da ausência de alguns afectos tenta descobrir o caminho para a alma. (Ou para sair dela?). Mês em que os abraços são mais embalados, embrulhados em papel de seda. Suave, porém tão... frágil.


*
"Por que foi que cegámos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem."

José Saramago, in "Ensaio sobre a Cegueira"

*
Se o reflexo das tuas palavras te cobrisse o corpo como me cega
ambos saberíamos que só no
silêncio poderíamos ser felizes.
Ou duvidas que esse som alberga todos os desejos de dentro?
Se as cores do teu olhar se voltassem de novo para trás, ambos iríamos finalmente conhecer o sabor do desencontro.
Ou duvidas que essa memória nos carrega as noites?
Se cada sentido disto tudo se transformasse, não valeria a pena a volta
Ficaríamos na dúvida.

Pedro Branco, in "Escolhas"
*

*

"Porque nada é mais íntimo e indestrutível do que o silêncio partilhado. Tudo o resto são apenas palavras, sons, frases, coisas que qualquer um pode dizer. Podemos desdizer hoje o que dissemos ontem, podemos gritar hoje, por ódio, o que ontem segredávamos por amor. Mas o silêncio fica porque nunca mente, porque é tão íntimo que não pode ser representado, é tão envolvente que não pode ser rasgado."

(...)

"...nunca devemos amar em silêncio, nada é mais perigoso do que dividir com outrém os pensamentos vividos em silêncio. Um amor feliz precisa de turbilhão das palavras, das frases aparentemente inúteis e sem sentido, precisa de adjectivos, de elogios, do ruído das banalidades. Não há felicidade que seja tantas vezes fútil, tantas vezes inútil."


Miguel Sousa Tavares, in "Não te deixarei morrer, David Crockett"
*

"De vez em quando naufragava uma frota carregada de prata no oceano. A humanidade tentou desde sempre recuperar os tesouros afundados. No meu coração já se afundaram tantas frotas e toda a vida hei-de tentar trazer à superfície uma parte dos muitos tesouros que jazem lá no fundo. Ainda não tenho as ferramentas necessárias para isso. Vou ter de as fabricar a partir do zero."
*
Etty Hillesum, in "Diário 1941 - 1943"
*
“Pudéssemos viajar, não para lugares longínquos de paisagens tremendas, não ao encontro de outros povos, culturas e cheiros, outras gentes e sabores, mas ao interior uns dos outros.”
*
Rodrigo Guedes de Carvalho, in "A Casa Quieta"