terça-feira, abril 20, 2010

LEVA-ME... (LEVAS?)



Leva-me,
por entre as luas,
por entre os veleiros,
por entre as palavras,
por entre os azuis,
por entre as certezas,
por entre os teus braços.
E não me deixes voltar à tristeza.
Nunca mais.
*
Ni*

quinta-feira, abril 15, 2010

PARA OS (POUCOS) AMIGOS QUE AINDA POR AQUI PASSAM...

São poucos os(as) amigos(as) que por aqui ainda vão passando. Mas permitam-me que vos diga que me fazem bem... que me sopram brilho para os meus olhos... que me fazem sentir abraçada, mesmo quando (em dias como o de hoje) a única mão que me toca o rosto é a minha.

Ainda que seja 'por aqui'... ofereço-vos uma fatia de uma torta de laranja e canela, um café e uns versos...

«Em cada palavra tua, amigo,
em cada sílaba acariciada pelos teus dedos,
há uma semente de voo de vento sagrado...
E o meu sorriso de ilha sem barco,
faz-se presente, cascata, ri(s)o ondulado,
doce onde era salgado....»

Obrigada!

Ni*







quarta-feira, abril 14, 2010

REINVENTA O SONHO E FAZ AMANHECER O MEU OLHAR...




Não te negues. Não te negues aos meus dedos, nem te faças improvável ao meu toque. O meu corpo grita pelo sal dos teus contornos e as minhas águas anseiam quebrar-se em ondas sobre ti. O sopro do sussurrar o teu nome atrai os pássaros da saudade pelo que serás para o meu peito. A tua ausência atravessa a noite em cada hora e mantém-me cativa e desperta, sempre alerta e inteira. Sinto-me a eterna espera, a eterna véspera do teu abraço. E sou tua, mesmo antes de saber-te. Mesmo que nunca me saibas. Sou tua em detalhes mínimos, nas latências, nas grandezas, nos desvarios e indecências. Então, vem... despe o medo, arranca a venda dos olhos da memória. Volta os passos, apaga o tempo. Reinventa o sonho e faz amanhecer o meu olhar.
*
«CARTAS A UM AMOR FUTURO» *
* Um projecto de projecto.

segunda-feira, abril 12, 2010

«MATAR A SEDE COM ÁGUA SALGADA...»




'Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas às urgentes
Perguntas que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer enquanto
O nosso amor durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...

Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada...'

Miguel Torga

quarta-feira, abril 07, 2010

SE TE ESCREVER UM POEMA...

Ofereço-te o meu silêncio de ilha secreta,

com areias e corais,

embrulhado em som de seda.

Diz-me...

Se te escrever um poema, voltarás?


A palavra dissipa as brumas brancas,

a memória fica água límpida,

abraçada à minha caligrafia,

e amaina os ventos que nascem no mar de asas,

dentro dos meus olhos.


E eu, que te nego tantas vezes três vezes,

sei que o poema é o único local

onde podemos repetir o lume das nossas mãos.

Se te escrever um poema, voltarás?

*

Ainda que tenha rima branca,

volta...

No azul da palavra saudade,

ou no traço-luz de saliva sobre a minha pele,

que desenhei em cada despedida de silêncio sem rumo.



Diz-me... se te oferecer no poema

cerejas rubras e doces,

em palavras lavadas e renovadas,

sobre a minha nudez espalhadas...

Mel e ambrósia, embalo e banquete

sobre o meu ventre, quente...

Tu virás?

*

Ni*





AS CEREJEIRAS JÁ FLORIRAM, AMOR...



Podia dizer-te que me fazes falta.
Podia contar-te como as minhas mãos me contam dos seus gestos suspensos, porque tu não estás para acabar o verso.
Podia falar-te da vontade de desenhar reticências de chuva, com os silêncios que me escorrem dos olhos.
Podia dançar-te, num murmúrio de voz que te envolvesse em aromas de pomares, de tulipas e de afectos.
Podia voltar a dizer-te que me fazes falta no beijo há tanto tempo adiado, que trouxesse tudo com ele... o mar, as ondas, as gaivotas, as conchas, a vontade de ficar, o teu perfume que ainda guardo, invencível, na memória da minha pele.

...

Mas eu calo-me. Espero que tu saibas. Espero que tu sintas tudo o que te poderia dizer em cada momento que deixo por aí, livre, entregue ao som do vento, que insisto em oferecer diluído em abraços. Como toque de areia fina. Como toque de acaso encantado.

Espero que tu saibas. Espero que tu sintas.

É que as cerejeiras já floriram, amor...


Ni*

(2007)




SE TU ME AMASSES...

(Post recuperado da memória do tempo...)


Se tu me amasses, eu seria a tua pátria. E a tua casa. E as tuas mãos. E a tua língua. E seria, sem pudores, nudez e fogo e memória da semente da raiz de todas as árvores, que se aquietam com o peso branco da neve. Ao tempo, roubaria a pressa e puxar-te-ia para dentro de mim, rio e relâmpago, vulcão e desvario, mel e lava. Se tu me amasses, recomeçaria a viagem contigo e faria dos teus braços os apeadeiros... e do teu corpo a chegada. E ficaria nele, com a firmeza de quem sabe que o vento une em abraços quem se quer. E dos meus dedos escorreriam palavras gemidas e incontidas, que espalharia em ti, como fogo aceso e a partir de então inapagável. Porque se tu me amasses, todos os cansaços seriam verbos conjugados no passado... e a minha boca só sabe a presente...
Não, não quero regressar. Só a ti.


Ni*


_____________.0o0._____________

Texto inspirado num post do Manel Coutinho Ribeiro, no Anónimo... que reproduzo em baixo.


Como escreve bem, este meu amigo!


Não sei se tu...

Se tu me amasses, eu construiria com as minhas mãos uma cabana com árvores e neve à volta, uma lareira, o calor dos abraços, a nudez, os dedos que correm devagar nessa nudez, os beijos, a língua que te desenha os contornos dos lábios, o tempo que corre devagar, o querer estar ali, o entrar em ti até ao fim, estar lá, estar lá, ficar ali, que o tempo corre devagar, nenhum de nós tem pressa, começar tudo de novo, a fuga, a viagem, as coisas que levamos, frugais, os casacos grossos, a neve, os corpos suados, o vento que se agita e a neve que bate contra as janelas, o fogo aceso, os teus dedos que sugo, um a um, o cansaço, o abraço, o abraço. Esquecidos. O tempo parou ali, naquela cabana com neve à volta. E eu não quero regressar, não sei se tu.


MCR