quarta-feira, agosto 29, 2012

O TEMPERO DA MINHA BOCA

 


Enlaço a cor da noite com o brilho do meu cabelo, e lá fora, o vento quente, cúmplice e atrevido, sopra-me versos soltos, livres, sem pudor, sobre um amor ateado...
Nos meus dedos, uma palavra leve, breve, acende-me a espiral do meu olhar, mergulhado em mel e sombras de fogo.
E o tempero da minha boca intensifica-se quando a digo.

Ainda e sempre o teu nome...

Só tu conheces o meu grito desamarrado e naufragado em mar alto. E os meus sonhos, ecos dos meus ombros nus, que anseiam pelo farol da ilha onde dorme a tua voz.
E nesta tempestade de escolhas, que me esculpe desertos numa dança de areia, sinto sede das tuas mãos de poeta, amor...

Nina Castro

À DISTÂNCIA DO FICAR...



O abraço deles enciumou de espanto as luas, na eternidade daquele momento que sabiam roubado à corrente dos dias. E o tempo era uma data sem números... e o espaço era uma pátria só deles, cujo nome era feito de palavras renovadas e puras, emudecidas de prazer...
Ela deixou fluir da voz a lágrima engolida, feita murmúrio, embalada pela aragem quase quente de muitas vontades reaprendidas, num regresso a um sentir que continha vidas e mares, desertos e violinos, gôndolas e frutos maduros. E sonhos. Muitos. E murmurou-lhe '-Não vás...', como quem lhe desenha na palma das mãos o destino fugidio que estava ali... à distância do ficar...


Nina