sexta-feira, abril 06, 2007

«SOU APENAS UM DESENHADOR DE MOMENTOS»






Junto ao barco aceito a minha chegada definitiva ao porto do tempo.
O vento insinuava-se nas velas e respirava o teu perfume como se o conhecesse.
O teu cheiro paira no meu ar e sei que andas perto e tu não sentes nada?
Nunca perguntes o que é a vida. Ela é sempre mais, ela está sempre além da resposta.
Talvez seja melhor perguntares se vives.
Terás a tua noção da vida, errada ou certa ninguém saberá, a não ser ela, a própria vida.
Vive juntando à tua existência bastante entusiasmo e se o fizeres, se isso for possível, estarás próximo do meu conceito, talvez seja melhor dizer, do meu sentimento de vida.
Cada vez mais acredito que é sempre o mesmo, o poema escrito.
O resto cai em lágrimas.
Nunca sei para onde me atirar de cabeça, apenas que todo o vencido é um vencedor.
E que o mar é imenso e que nunca pára.
Junto ao mar (o mar branco de espuma amiga) guardei uma pedra partida que me disse que só o amor e amizade se completam.
(E) em todos os sorrisos renasci.




~*~


João Sevivas, excertos escolhidos por mim e reunidos num poema renovado... sem o consentimento prévio do autor, (ai, que isto não se faz!).
*
Ni
*


João Sevivas: nasceu em Castro Daire, em 1954. Licenciado pela Universidade de Coimbra, exerce advocacia... e é um dos grandes poetas da actualidade.
Segundo as suas próprias palavras: «sou apenas um desenhador de momentos».
Obras: Flor de abril (1989), Para ti (1990), Peixinho solitário (1990), Fin del mal (1991), Los últimos momentos de una mentira (1992), El grito (1993), Os calos da alma (2001), Os sons da noite (2002), Cosas (2003), Redemoinho (2003), Momentos (2005), Terra (Alejo, 2007).


8 comentários:

João disse...

à Nina mar:

Boa fada me viu
Quebrado
Juntou pedaços e criou um ser
Parecido com ela
Não sou eu apenas
Até os mais tristes têm a sua fada madrinha
A minha és tu
Inteiro, tão longe me acenas
Que de novo me parto para que de novo
Me cries

( sou apenas um desenhador de momentos )

Rui Gonçalves disse...

"...Junto ao barco aceito a minha chegada definitiva ao porto do tempo.
O vento insinuava-se nas velas e respirava o teu perfume como se o conhecesse...."
Gostei do poema.

Filipe disse...

Descobri, pela falta, como se descobre a valia de tudo, que a afeição me era necessária; que, como o ar, se respira, e se não sente.

ferreira disse...

Desconhecia este Grande Poeta que é João Sevivas...este poema ...disse e tocou-me...muito...muito bom...

Amaral disse...

Mensagem curta porque, por enquanto, não tenho Net!
Uma Páscoa santa e feliz!
Tudo de bom para os teus projectos!

Maria disse...

Texto muito bonito, de alguém que acabei de conhecer...

Esta tua sensibilidade, Ni...

Um beijo

Zé Carlos disse...

Nina querida, eu adoro vc.
Um lindo domingo de Páscoa a vc e aos meninos...
Bjs do Zé Carlos

Cleopatra disse...

"Cada vez mais acredito que é sempre o mesmo, o poema escrito."

O Poema... todos escrevemos o mesmo poema.. de uma forma ou de outra quem ama, quem sente, quem vive realmente, escreve sempre o mesmo poema...sempre o mesmo poema!