quarta-feira, janeiro 31, 2018

E TU CHEGAS...

(Quadro meu, a partir de uma foto minha...)

(...)
Finalmente, numa manhã muito clara, tu ancoraste no cais. Surgiste tão luminoso que, por momentos, quase agarrei o fulgor dourado dos teus olhos. Descobri promessas infinitas de entrega no teu corpo. Rompi o meu casulo. Transmutei-me em criatura quase alada, ávida de vida. Iniciei danças, para ti, no despudor mais radical dos meus mistérios. Agora, em profana celebração dos nossos corpos, a minha pele abandona-se ao nosso desejo.Tenho o brasão dos teus dentes no meu ventre.Tenho as marcas da tua língua nos meus seios. Em cada entardecer aguardo o espasmo que farás nascer no meu corpo. E, nessa espera feliz, danço em sintonia com a lua, as marés, as lagoas, o vento. E na minha dança estendo-te a mão para que me acompanhes nos círculos da espiral só nossa. E tu chegas e derramas beijos nos meus quadris, de ti saudosos...

...


Ni*

terça-feira, janeiro 30, 2018

VENS?




...respirar o som da noite e saber que esta mesma lua te pede para olhares para o alto, onde o meu nome espanta os teus medos. E agora? Vens? Traz a memória dos teus nos meus dedos. Vens? Há sal na minha boca e na espera do meu ventre...

segunda-feira, janeiro 29, 2018

QUE VIVAN LAS MUJERES...

BEM-NOS-QUEREMOS





Dança-me, meu amor...
Enlaça-me,
enquanto a minha boca se abre
para beijos de água desenhados.
Sente-me,
enquanto eu me ouço nos teus braços.
Deita-me,
sobre ti e sobre o teu gemido.
Despe-me,
com a tua língua quente.
Faz-me,
nua... desarmada de artes.
Dá-me,
o teu espasmo em ondas de espuma branca.

E escuta o tremer dos nossos corpos,
que renascem no mesmo ventre,
porque bem-nos-queremos...


Ni* (in Cartas a um Amor Futuro)

domingo, janeiro 28, 2018

UMA URGÊNCIA RASANDO O INFINITO...



(Texto Recuperado. Porque gosto...)

Regresso a casa, ao lugar de mim, e escrevo...

Eu, no esconjuro do meu próprio nome, que me pertence, digo-me segredos de anjos, de luares alados no meu ventre, e de mãos... as tuas... decerto... transgredindo a progressão das horas.

Quero proferir todos os nomes como quem desata umas asas. As minhas. Emaranhadas , mas não inertes.

Das minhas mãos escorrem pingos de luz... (Ah... ter rio e mar na espuma de um poema!). Seguro as asas na mão e vou, por este leito de luz e água, os olhos abertos na pureza de quem não teme a verdade, e a rebentação toda no peito. Os meus seios inventam duas margens - onde tu te sentes mais homem - e assim se maravilham os meus passos.

Amo esse instante, a brevíssima pausa antes de murmurar o teu nome guardado em segredo, e mais um dia esculpido na minha memória... letra a letra...

Em dias como este, lentos, lisos, brancos e quentes, pela janela do meu quarto sai um sussurro, um restolhar brando, quase de pássaros, quase de árvores, quase de flor.

Cá dentro, o meu anjo despe as suas asas e um vento-brisa levanta-se nas planuras do meu ventre-canela. A tua voz, o riso manso dos teus olhos, os teus beijos de plumas e de sossego, crescem em mim como mãos.

Não sei de hora mais hora em mim que possa, com o ir e vir das horas e das marés, ser mais mar... mais amor... em refluxos de sal e onda, que o amar-te por sobre o dia e por sobre o tempo do dia, que olhar o infinito do ir e vir aqui, perante as ondas, perante o (a)mar, e descobrir que sobra sempre mais sal de marés, mais sal de marés e de tempo, que se desfaz noutro - e ainda mesmo sentir - como areia da praia toda líquida, ou água de mar toda nuvem, que esconde em si todo o sol e todo o azul de céu infinito.

Não sei de outra coisa, amor, que amar o mar e o amor, que amar-te no mar deste amor, e assim erguer o meu corpo perante o dia... sobre ti.


Ni*


Sophie Zelmani - Stay with my heart


Fica...

TERIA... (E foi assim!) * Para ti *



TERIA QUE SER ASSIM


(...)

Abre a transparência do fundo dos meus olhos,
Mergulha no céu que te dou,
até às raízes da minha essência.
Vê. Lê.
Sem pressa... do coração imita a cadência.

Podia voar contigo até às janelas abertas do portal...
Podia...
Mas puxei-te para a saída e ambos subimos as escadas,
ofegantes,
até ao cimo da montanha,
onde todo o tempo nos esperava.

Teria que ser assim...
Sempre o foi, com quem se ama e se reencontra.
Amei-te o corpo, acariciei-te a alma.
Beijei-te as memórias,
como quem sorve a água da vida não vivida,
mas reconhecida.

E a lua restituiu-te a mim...

(...)

Ni

28.1.2018