domingo, outubro 30, 2011

PEDRO, LEMBRANDO INÊS...

PINTURA: RASSOULI



Pedro, lembrando Inês

Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: "Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios? "Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fundo do mundo que me deste.

Nuno Júdice




Nunca escondi a paixão literária pelo meu mestre, Nuno Júdice. É, para mim, O poeta português da actualidade, que me emociona para além do 'dizível'. Esta colectânea de poemas, 'Pedro, Lembrando Inês', é de uma beleza que desafia a nossa incredulidade face ao impossível. Sim, é possível escrever-se assim.
E que bom é respirar esta poesia, professor...


(A minha leitura do poema, nesta tarde de sol...)

COMO BARCOS VERMELHOS...

Post resgatado ao tempo...

 
Pintura: Jia Lu - Adrift

Ela abraçou as palavras e a seguir despiu-as, letra a letra, devagar, como barcos vermelhos que lhe saíam dos dedos. Em silêncio. Como um ser alado da noite. Criatura onírica, transparente, indizível e única. Trazia no espelho do olhar todas as mulheres que ousara ser. Olhou-o de frente, como se olhasse para a estrela da manhã, e murmurou-lhe:
'- E pela última vez te contarei como me pinto de asas em noites de paixão. E pela última vez te segredo que fui flor de papel de seda colorido e fui menina com tranças em frágeis laços de papel de lua e fui noiva em moldura de flor de laranjeira e fui palhaço de rábulas surrealistas e delirantes e fui princesa de povos mágicos e dolorosamente reais e fui pérola tão impossível de tão pura e fui segredo em silêncio de homens proibidos e fui mulher em chamas vestida de negro e fui jardim onde repousas as ternuras que não confessas e fui jóia que usaste ao peito como medalha e fui sereia para que tu fosses capitão e fui pirata para que usasses o tesouro que era meu. E hoje, meu amor, desejo apenas que digas o meu nome...'

Nina Castro, in 'Cartas a um Amor Futuro' (excertos)

sexta-feira, outubro 21, 2011

«NOS OMBROS QUE ANSEIAM POR UMA CARÍCIA...»


Há noites assim, em que o tempo pára à nossa frente... e nos interroga se continuamos a corrida ou nos visitamos no passado. E nem o olhamos, a ele, ao tempo, ilusionista sedutor, nas suas permanentes e incandescentes tentativas de tornar o todo num nada. Porque tudo muda, tudo é fluido e frágil... sim, eu sei, e se eu quiser revisitar-me? Se quiser refugiar-me num daqueles dias em que a felicidade escapou aos olhos alheios e perecíveis? Se decidir voltar até mim, ao momento em que me despedi das flores dos dias que tomavam forma num rosto e num nome? E se decretar que a partir de hoje vou espalhando pelo caminho as esperanças de um beijo esquecido nos patamares cá dentro, a que costumam chamar alma? E se declarar que abrirei os braços a rios ébrios de afectos... até nunca me querer saciar? E se te desafiar, tempo, a descobrires todas as vontades depositadas pelos meus olhos em cofres e baús de anjos-poetas?

...

As almas comandam os dias, mas ainda mais as noites. Não tu, tempo. As almas!!! Quando o rasgar da saudade se sente a cada instante nos ombros que anseiam por uma carícia...


Ni*

POR UMA LINHA DE ÁGUA...



«Um mar rodeia o mundo de quem está só» (1),
Dizes-me...
E eu desenho-te,
no centro da palma da tua mão,
uma linha de água.

Olhas-me,
como se essa linha te lembrasse
o quanto de ti trouxe nos meus dedos.

Há caminhos verticais, sabias?
Que se descobrem em passos ancestrais,
porém sempre renovados.

Sim,
esses que te levam ao início da memória...
Onde ecoa o meu nome,

que tentaste esquecer.
E o calor da pele do meu peito sobre o teu.

Sim,
esses que te lembram o prazer de negar a solidão.
E o querer de querer mais.
E mais.

Mais!


Podia contar-te o segredo da hora de águas e areias.
Onde o tempo da ausência
se dissolve na cristalização do sal.
E o encontro das aves acontece...

Mas olho-te, em silêncio.
E sorrio.
Num convite para vires até mim
por uma simples linha de água.

Vem descobrir a coragem
De falar de amor, aves, pele, tempo,
sopro, azul, vento...


Agora.

Agora!

Nina Castro 



(1) in poema ‘Solidão’, Nuno Júdice

terça-feira, setembro 27, 2011

MEMÓRIAS EM VOO LIVRE...


Memórias em voo livre
(...)



Pousei as palavras com sabor a outrora.
Olho-as...
Conheço-lhes o travo nesta meia memória a meio da vida.
Doces e salgadas, encontro e partida.
Sigo o gesto que a minha mão traça entre o que passou e o agora...

E sem o tempo ver,
roubo o instante entre o nunca e o sempre.
Onde não são necessárias despedidas, escolher...
Onde posso apenas, livremente, SER.
Precioso fio, guardado na luz do espelho,
que voou da caixa da memória.
Entre tu e eu, ainda e persistente,
a interminável história.

Conto os passos ao ritmo deste coração descompassado,
que me pede para não escolher o que já está escolhido...
Nas memórias reflectido, de um presente passado.
...

Os pássaros, pousados,
suspensos na eternidade,
têm a calma da saudade...

Não te esqueci, é verdade!

E se comigo sempre amanheces, diz-me...
De que outros mundos me conheces?

...
Ni*



domingo, setembro 25, 2011

E TU PUXASTE-ME PARA OS TEUS OLHOS...

Post resgatado ao tempo


Hoje, com palavras límpidas,
ondulei as linhas de luz
na água da tua vida.


E tu, pegando-me na mão,
puxaste-me para os teus olhos.


Amanhã, com palavras renovadas,
quero murmurar-te, como quem sorri,
que em ti encontrei o segredo,
a chave de cristal
dos sons que aqui escrevo.


E eu, pegando-te no espanto
de um amor não esperado,
convido-te a ficares em mim.


Ni Castro

AMO-TE, LISBOA! (V)

Uma Luz única, derramada num céu azul profundo. Convite aos jogos de sedução entre sol e sombra, aos silêncios e danças... portais abertos para quem traz o rio no olhar e não tem medo de dizer que ama amar esta cidade.

Lisboa, esta tarde...
*
- Uma amostra das 141 fotos que tirei... :) -
*
(Para ver as fotos no tamanho original basta clicar sobre elas...)



























 

CONTIGO, EU ARRISCO! (100º post)

Post antigo. Estava em rascunho e eu publiquei-o. Pensei que iria surgir 'lá atrás'... não aqui. :(
E agora... ou o retiro ou fica aqui... fora do tempo onde pertence... aiaiaiaiaiai...







Não somos responsáveis apenas pelo que fazemos,
mas também pelo que deixamos de fazer.
*
(Molière, dramaturgo francês)

~*~
Olá!!!

Este é o 100º Post. Sem pudores... apresento-me:

Esta sou eu...
Uma mistura de menina-mulher com alma de pássaro...
Mantenho a eterna ingenuidade de ACREDITAR nas pessoas... e de amar a VIDA!
Sou professora de Literatura Portuguesa e Francesa... nasci e vivo em Lisboa... cidade encantada, onde os voos das gaivotas nos levam (e lavam) o olhar... até onde o nosso coração alcança, ou seja, para além do além, do além... do além...
Escrevo um pouco. A verdade é que preciso de escrever como de respirar (ainda que só a mim interesse o meu respirar.)
Adoro abraços...
o afecto tão especial que escorre para a alma.
Queria oferecer-vos um excerto ínfimo de algo que escrevi ao longo de muito tempo, uma narrativa que tem o título deste post: «Contigo, eu arrisco!».
(Também já existe em ebook.)

Abraçoooooo dançado.

Nina
*~*
(...)

Quando se olharam pela primeira vez... ela soube: ele pertencia ao grupo dos que perturbam, dos que não consolam, dos que não enxugam as lágrimas, dos que dão o abraço desafiador.

Não era um porto de abrigo... tinha mais aura de perigo.
E ela gostou.

Eterna meNINA, que não tem medo do escuro... que evita o caminho mais seguro, previsivel.
Sempre preferira rios cantantes a searas calmas e ondulantes.

Optou pelo ousado.
(Ah, meNINA... que segues o Fado!)

O que seria da corda de um piano se ninguém tocasse na tecla?
Nunca conheceriamos o belo som que ela pode produzir.
Só assim se estabelece a nossa música, aquela que nos envolve e desperta para um mundo estranho aos demais.

Se não fosse assim, como poderia o homem provar o beijo ardente que ficou preso no tempo?

Vou, vou contigo... seja onde for.
Quero encontrar a Lei do amor!
É a directriz da vida...
Alma que não a sente, estará perdida!

E olhou-o com o seu olhar arisco... como quem lhe diz:
'Contigo... eu arrisco!'

(...porque as almas afins são feitas para um dia se reencontrarem e tudo arriscarem!...)

Nina

quarta-feira, setembro 07, 2011

PRECE

PRECE (Post antigo recuperado...)



E na Tua presença, que me preenche os vazios,
na água sagrada, corrente na veia dos rios,
eu elevo uma única prece...

Que eu saiba sempre encontrar o trilho até Ti...
Sete Caminhos cruzados,
sete elementos com o TODO partilhados.
Que não retorne ao que já percorri.
Que os meus passos sejam de VIDA.
Que a minha busca ousada seja permitida.

Dá-me a sabedoria de intuir,
da energia deixar fluir.
Luz- SOL- Fogo e Brilho - LUA - Resplendor,
anfitriões da alegria fértil e jamais da dor.
Duas faces do TODO...
UNO
ao encontro predispostos
e nunca opostos.

Conduz o meu pensamento,
como criança confiante,
até ao coração da verdade com que me dou.
EU SOU.

E nos momentos de solidão...
mostra-me que nem sempre um sim
é melhor do que um não.
Que o círculo sagrado se complete e me fortaleça.
Que a força do Universo,
que eu canto em cada música de palavra feita verso,
me toque com a leveza do vento,
a profundidade do mar,
a estabilidade da Terra,
a firmeza da rocha.
Que assim aconteça.

Que assim seja, que assim se faça!
Assim já É.

(...)

Nina



REINVENTA O SONHO E FAZ AMANHECER O MEU OLHAR...




Não te negues. Não te negues aos meus dedos, nem te faças improvável ao meu toque. O meu corpo grita pelo sal dos teus contornos e as minhas águas anseiam quebrar-se em ondas sobre ti. O sopro do sussurrar o teu nome atrai os pássaros da saudade pelo que serás para o meu peito. A tua ausência atravessa a noite em cada hora e mantém-me cativa e desperta, sempre alerta e inteira. Sinto-me a eterna espera, a eterna véspera do teu abraço. E sou tua, mesmo antes de saber-te. Mesmo que nunca me saibas. Sou tua em detalhes mínimos, nas latências, nas grandezas, nos desvarios e indecências. Então, vem... despe o medo, arranca a venda dos olhos da memória. Volta os passos, apaga o tempo. Reinventa o sonho e faz amanhecer o meu olhar.
*
«CARTAS A UM AMOR FUTURO»

sexta-feira, setembro 02, 2011

TEMPESTADES...


(Resposta a um desafio da Cleópatra)

MOTE:
"Quem tem medo de tempestades acaba a rastejar"
...

Há tempestades nos olhos de quem ama.

E bonanças. É de contradições que é feito o amor. E de desafios. E de ousadias. Não de medos!

A minha voz desenha-se, solitária, perante o teu silêncio e os teus olhos que se desviam, na fuga de quem receia a palavra que se adivinha.
Há algo líquido no tempo e eu não o prendo. Saboreio-o. Tem travo a mar e a alecrim, a momentos roubados ao nunca, a rotas de ida com destino ao sempre, ainda que não saiba 'onde' nem 'quando'. Ainda que saiba 'porquê'... ainda que saiba com 'quem' queria...

Há tempestades nos olhos de quem ama.

Feitas de memórias, de saberes, de saudades e de vontades. Feitas de presente, onde tudo acontece. Ou não. E é neste não acontecer que nos perdemos.

Agora que chegaste aos meus olhos não t(r)emas!

Quem tem medo de tempestades acaba a rastejar...


Ni Castro

quinta-feira, setembro 01, 2011

PARA O OUTRO LADO DO ESPELHO...


Esta noite... deixa-me ser o embalo fluido, que te leva de ti para o outro lado do espelho.

Ni

DEIXAS?

O Universo cabe na curva dos meus seios, quando os teus dedos neles desenham sonhos, que sorves com a urgência das tempestades brancas. As velas, que nos banham de odores a jasmim e canela, não ardem até ao fim... porque nós negámos essa palavra. Sorrimo-nos. E sabemos que os ventos levarão para longe as ondas frias das sombras do passado. Deixa-me fazer do teu corpo o livro por escrever... deixas?

Ni*


POR UMA LINHA DE ÁGUA...



«Um mar rodeia o mundo de quem está só» (1),
Dizes-me...
E eu desenho-te,
no centro da palma da tua mão,
uma linha de água.

Olhas-me,
como se essa linha te lembrasse
o quanto de ti trouxe nos meus dedos.

Há caminhos verticais, sabias?
Que se descobrem em passos ancestrais,
porém sempre renovados.

Sim,
esses que te levam ao início da memória...
Onde ecoa o meu nome, que tentaste esquecer.
E o calor da pele do meu peito sobre o teu.

Sim,
esses que te lembram o prazer de negar a solidão.
E o querer de querer mais.
E mais.
Mais!


Podia contar-te o segredo da hora de águas e areias.
Onde o tempo da ausência
se dissolve na cristalização do sal.
E o encontro das aves acontece...

Mas olho-te, em silêncio.
E sorrio.
Num convite para vires até mim
por uma simples linha de água.

Vem descobrir a coragem
De falar de amor, aves, pele, tempo,
sopro, azul, vento...


Agora.


Agora!

Ni*



(1) in poema ‘Solidão’, Nuno Júdice

sexta-feira, agosto 19, 2011

ESTA NOITE

Imagem: «VÓRTICE», uma litografia de Luís Albuquerque



Esta noite
gostaria de afastar de mim
a pedra rubra da dúvida.
Dançar na espiral azul da procura,
e encontrar(-me) (n)uma resposta.
E ainda que a alma me doa,
enfeitá-la com flores amarelas.
E entre os olhos do tempo adormecer.
Adormecer.
A... dor... me... ser... (levada)


Conceição Castro (Nina)

AINDA TÊM SONHOS OS MEUS OLHOS


Texto antigo com supressões







O que sei, já alguém o sabia antes de mim.
Insensatez, acreditar que não é assim.
Exclusivamente meu é apenas este coração!
Que insiste, e recusa ser escravo das sombras...
(...)


E os meus olhos,
estes barcos sem cais,
que atravessam a chuva, temporais,
com mastros quebrados na passagem de tantos cabos...
Não naufragam...
Riscam no horizonte o limite da luz,
onde se escondem todas as asas de pássaros feridos,
mas não vencidos!
Disfarçados de luas brancas...
soltando brilho em vez de gemidos.


Ainda têm sonhos, os meus olhos..

Nina

Lisboa, numa madrugada... num momento... a ouvir «ADIA», Sarah Mclachlan


quarta-feira, agosto 10, 2011

ÉS O POEMA. E ESTÁS EM MIM...

Post recuperado
Para ler a ouvir:


(Gosto tanto...)



Em mim, moras tu. Moras na sede da minha pele, e nela te sacias, repousas e renasces. E em cada segundo... a cumplicidade do olhar, onde nos deitamos, num prazer absoluto. Sem vergonhas nem vertigens. Em mim, moras tu. Segredam-me ventos os teus segredos. Agita-se a tua alma nos meus poros. Desassossega-me o teu corpo, que me sabe as margens transbordantes, as fases crescentes e as marés vivas. Olho a página em branco e não escrevo. Hoje não te escrevo uma carta, amor. És o poema. E estás em mim.



E o resto, o resto não importa.

E sorrio...





Ni*, in Cartas a um Amor Futuro, 2008

Para ler a ouvir:


(Gosto tanto...)

terça-feira, agosto 09, 2011

O TEMPERO DA MINHA BOCA...

Post recuperado. Texto escrito em 22/2/2010




Enlaço a cor da noite com o brilho do meu cabelo, e lá fora, o vento, cúmplice e atrevido, sopra-me versos soltos, livres, sem pudor, sobre um amor ateado...

Nos meus dedos, uma palavra leve, breve, acende-me a espiral do meu olhar, mergulhado em mel e sombras. Talvez saudades...


E o tempero da minha boca intensifica-se quando a digo.


Ainda e sempre o teu nome...


Só tu conheces o meu grito desamarrado e naufragado em mar alto. E os meus sonhos, ecos dos meus ombros nus, que anseiam pelo farol da ilha onde dorme a tua voz.


E nesta tempestade de escolhas, que me esculpe desertos numa dança de areia, sinto sede das tuas mãos de poeta, amor...




Nina Castro

domingo, agosto 07, 2011

secretUM (Alquimia)

Recuperar as palavras que o tempo ofereceu ao esquecimento...

Clicar na imagem para a aumentar


SECRETUM

Eu sei... e tu também...
Desvendámos o mistério de nos encontrarmos na eternidade...
No tempo que desafia a descobrir a sua idade...
No espaço... que se confina ao cheiro do nosso abraço.
Fecha os olhos, meu segredo...
Sente a minha carícia... deixa-me ler-te o desejo... sem medo...
Vem comigo ao limiar da liberdade... de quem se revê no olhar da alma do outro...
Almas reencontradas, festejos, risos, lágrimas, excessos... que ainda assim sabem a pouco.
E o teu convite profano e sagrado,
de homem...
Que sabe tocar a essência do meu jardim alado...
Razão e coração, Alma e corpo, toque e odor...
E a tímida palavra que nos envolve... Amor...
Alquimia... Sintonia, Mago da Natura, da noite... e do dia.
Pedra Filosofal...
Cavaleiro do Graal...
Águas descendentes do Céu, misturam-se com as águas ascendentes da Terra.
(Na tua voz descobri o cântico final, mantra de PAZ... ausência da chama da guerra.)
E na tua entrega... homem que anseia nos meus braços tornar-se um menino...
União a duas almas com o divino...
Purificação , libertação das amarras, da queda redenção...
União a um só coração.
E no meu ventre, de ti molhado, salgado...
Água ardente, Ar, Terra e Fogo húmido... confluem para o momentUM sagrado...
O 'UM'... de novo...
há gerações apartado.
E o oculto se desvenda, quinta-essência...
E assim se cumpre a Roda do Tempo...
Alma, espírito, matéria... transmutada em anulação de ausência.
E assim se cala o lamento...
*
Ni*

sexta-feira, agosto 05, 2011

LEVA-ME... (LEVAS?)



Leva-me,
por entre as luas,
por entre os veleiros,
por entre as palavras,
por entre os azuis,
por entre as certezas,
por entre os teus braços.
E não me deixes voltar à tristeza.
Nunca mais.
*
Nina Castro, in 'Cartas a um Amor Futuro I'

COMO BARCOS VERMELHOS...

Post resgatado ao tempo...

 
Pintura: Jia Lu - Adrift

Ela abraçou as palavras e a seguir despiu-as, letra a letra, devagar, como barcos vermelhos que lhe saíam dos dedos. Em silêncio. Como um ser alado da noite. Criatura onírica, transparente, indizível e única. Trazia no espelho do olhar todas as mulheres que ousara ser. Olhou-o de frente, como se olhasse para a estrela da manhã, e murmurou-lhe:
'- E pela última vez te contarei como me pinto de asas em noites de paixão. E pela última vez te segredo que fui flor de papel de seda colorido e fui menina com tranças em frágeis laços de papel de lua e fui noiva em moldura de flor de laranjeira e fui palhaço de rábulas surrealistas e delirantes e fui princesa de povos mágicos e dolorosamente reais e fui pérola tão impossível de tão pura e fui segredo em silêncio de homens proibidos e fui mulher em chamas vestida de negro e fui jardim onde repousas as ternuras que não confessas e fui jóia que usaste ao peito como medalha e fui sereia para que tu fosses capitão e fui pirata para que usasses o tesouro que era meu. E hoje, meu amor, desejo apenas que digas o meu nome...'

Nina Castro, in 'Cartas a um Amor Futuro' (excertos)

quinta-feira, julho 21, 2011

VIESTE. TRINTA LUAS E UM EQUINÓCIO DEPOIS...


Vieste. Trinta luas e um equinócio depois. Vieste e trazias promessas e memórias e sonhos sépia, colados ao teu nome que eu nunca deixei de conjugar. Vieste. E ofereceste-me a tua boca desenhada a beijos e mar. Vieste. E leste-me os olhos de brumas que, para ti, se abriram. Entendi, trinta luas e um equinócio depois, que o teu abraço, que tanto esperei, era interdito, peregrino, nómada, fluido. Como as marés e as fases lunares, guardiãs que nos sabem e nos velam. Vieste e partiste. Levaste-me a espera e a esperança e os meus dedos de água na tua pele. Deixaste-me a lua. E as marés.

Ni*

(Escrito na sequência da leitura de um texto... que me tocou muito profundamente...)

domingo, maio 29, 2011

UMA URGÊNCIA RASANDO O INFINITO...



Regresso a casa, ao lugar de mim, e escrevo...

Eu, no esconjuro do meu próprio nome, que me pertence, digo-me segredos de anjos, de luares alados no meu ventre, e de mãos... as tuas... decerto... transgredindo a progressão das horas.

Quero proferir todos os nomes como quem desata umas asas. As minhas. Emaranhadas , mas não inertes.

Das minhas mãos escorrem pingos de luz... (Ah... ter rio e mar na espuma de um poema!). Seguro as asas na mão e vou, por este leito de luz e água, os olhos abertos na pureza de quem não teme a verdade, e a rebentação toda no peito. Os meus seios inventam duas margens - onde tu te sentes mais homem - e assim se maravilham os meus passos.

Amo esse instante, a brevíssima pausa antes de murmurar o teu nome guardado em segredo, e mais um dia esculpido na minha memória... letra a letra...

Em dias como este, lentos, lisos, brancos e quentes, pela janela do meu quarto sai um sussurro, um restolhar brando, quase de pássaros, quase de árvores, quase de flor.

Cá dentro, o meu anjo despe as suas asas e um vento-brisa levanta-se nas planuras do meu ventre-canela. A tua voz, o riso manso dos teus olhos, os teus beijos de plumas e de sossego, crescem em mim como mãos.

Não sei de hora mais hora em mim que possa, com o ir e vir das horas e das marés, ser mais mar... mais amor... em refluxos de sal e onda, que o amar-te por sobre o dia e por sobre o tempo do dia, que olhar o infinito do ir e vir aqui, perante as ondas, perante o (a)mar, e descobrir que sobra sempre mais sal de marés, mais sal de marés e de tempo, que se desfaz noutro - e ainda mesmo sentir - como areia da praia toda líquida, ou água de mar toda nuvem, que esconde em si todo o sol e todo o azul de céu infinito.

Não sei de outra coisa, amor, que amar o mar e o amor, que amar-te no mar deste amor, e assim erguer o meu corpo perante o dia... sobre ti.


Ni*


quarta-feira, maio 18, 2011

DUMA CARTA...

Post recuperado...
(roubado ao tempo-esquecimento...)


Desafio da Cleopatra:


MOTE:

“Duma Carta”


Escrevi-te ontem
somente para dizer
das minhas mágoas e do meu amor…
O Sol morria…
Tudo era sombra em redor
e eu…, ainda escrevia…

A pena sempre a correr
sobre o papel,
deixava cintilações,
nas pedras do meu anel!

E a pena corria…
Nem precisava ver, o que escrevia!

Anoitecera.
…………………………………………
Como eu em toalha de altar
A mesa
revestiu-se de luar!…

Nascera a lua.
E a pena, nos bicos leves,
dizia ainda:
– Sou tua!
Por que é que me não escreves?
Mas o papel acabou
e a pena continuou:
Por que é que me não escreves?
O meu amor é todo teu.
Só eu te sei amar!
– Só eu!…

Janeiro
1922


Judith Teixeira


~*~

(Foto-montagem: imagem retirada do blog da Cleopatra sobre foto minha. )



«Escrevi-te ontem
somente para dizer»


Que continuo aqui, parada no hoje. Como passageira adiada numa estação-desencontro, onde o comboio nunca tem o destino certo e onde as horas são sempre amanhã.
Se pelo menos soubesse falar-te de amores e lhes retirasse todas as rimas óbvias, gastas e repetitivas, com dores, talvez me aninhasse no silêncio de uma palavra onde esta distância-uivo-de-lua-nascente-mais-que-presente cessasse no agora e... para sempre. Mas onde e como esconder de ti o rio de fogo das saudades? Tudo passa, dizem. E todos os rios secam, dizem também. Menos um, feito abraço embalado e suspirado, por onde navegámos negando a solidão da noite. Lembras-te?
Mas eles, os que tanto dizem, não sabem.

E ninguém, nunca, saberá, que ainda permaneço deste lado do tempo onde sou tua.
Nem tu.

Nem tu...

«Por que é que me não escreves?»


CC (Ni*)

Fevereiro, 2009


sábado, março 19, 2011

UM POEMA DE AMOR (lido por mim)

PINTURA: RASSOULI



Pedro, lembrando Inês

Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: "Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios? "Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fundo do mundo que me deste.

Nuno Júdice




Nunca escondi a paixão literária pelo meu mestre, Nuno Júdice. É, para mim, O poeta português da actualidade, que me emociona para além do 'dizível'. Esta colectânea de poemas, 'Pedro, Lembrando Inês', é de uma beleza que desafia a nossa incredulidade face ao impossível. Sim, é possível escrever-se assim.
E que bom que é respirar esta poesia, professor...


(A minha leitura do poema, nesta tarde de sol...)