sábado, março 19, 2011

UM POEMA DE AMOR (lido por mim)

PINTURA: RASSOULI



Pedro, lembrando Inês

Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: "Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios? "Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fundo do mundo que me deste.

Nuno Júdice




Nunca escondi a paixão literária pelo meu mestre, Nuno Júdice. É, para mim, O poeta português da actualidade, que me emociona para além do 'dizível'. Esta colectânea de poemas, 'Pedro, Lembrando Inês', é de uma beleza que desafia a nossa incredulidade face ao impossível. Sim, é possível escrever-se assim.
E que bom que é respirar esta poesia, professor...


(A minha leitura do poema, nesta tarde de sol...)