sexta-feira, agosto 19, 2011

ESTA NOITE

Imagem: «VÓRTICE», uma litografia de Luís Albuquerque



Esta noite
gostaria de afastar de mim
a pedra rubra da dúvida.
Dançar na espiral azul da procura,
e encontrar(-me) (n)uma resposta.
E ainda que a alma me doa,
enfeitá-la com flores amarelas.
E entre os olhos do tempo adormecer.
Adormecer.
A... dor... me... ser... (levada)


Conceição Castro (Nina)

AINDA TÊM SONHOS OS MEUS OLHOS


Texto antigo com supressões







O que sei, já alguém o sabia antes de mim.
Insensatez, acreditar que não é assim.
Exclusivamente meu é apenas este coração!
Que insiste, e recusa ser escravo das sombras...
(...)


E os meus olhos,
estes barcos sem cais,
que atravessam a chuva, temporais,
com mastros quebrados na passagem de tantos cabos...
Não naufragam...
Riscam no horizonte o limite da luz,
onde se escondem todas as asas de pássaros feridos,
mas não vencidos!
Disfarçados de luas brancas...
soltando brilho em vez de gemidos.


Ainda têm sonhos, os meus olhos..

Nina

Lisboa, numa madrugada... num momento... a ouvir «ADIA», Sarah Mclachlan


quarta-feira, agosto 10, 2011

ÉS O POEMA. E ESTÁS EM MIM...

Post recuperado
Para ler a ouvir:


(Gosto tanto...)



Em mim, moras tu. Moras na sede da minha pele, e nela te sacias, repousas e renasces. E em cada segundo... a cumplicidade do olhar, onde nos deitamos, num prazer absoluto. Sem vergonhas nem vertigens. Em mim, moras tu. Segredam-me ventos os teus segredos. Agita-se a tua alma nos meus poros. Desassossega-me o teu corpo, que me sabe as margens transbordantes, as fases crescentes e as marés vivas. Olho a página em branco e não escrevo. Hoje não te escrevo uma carta, amor. És o poema. E estás em mim.



E o resto, o resto não importa.

E sorrio...





Ni*, in Cartas a um Amor Futuro, 2008

Para ler a ouvir:


(Gosto tanto...)

terça-feira, agosto 09, 2011

O TEMPERO DA MINHA BOCA...

Post recuperado. Texto escrito em 22/2/2010




Enlaço a cor da noite com o brilho do meu cabelo, e lá fora, o vento, cúmplice e atrevido, sopra-me versos soltos, livres, sem pudor, sobre um amor ateado...

Nos meus dedos, uma palavra leve, breve, acende-me a espiral do meu olhar, mergulhado em mel e sombras. Talvez saudades...


E o tempero da minha boca intensifica-se quando a digo.


Ainda e sempre o teu nome...


Só tu conheces o meu grito desamarrado e naufragado em mar alto. E os meus sonhos, ecos dos meus ombros nus, que anseiam pelo farol da ilha onde dorme a tua voz.


E nesta tempestade de escolhas, que me esculpe desertos numa dança de areia, sinto sede das tuas mãos de poeta, amor...




Nina Castro

domingo, agosto 07, 2011

secretUM (Alquimia)

Recuperar as palavras que o tempo ofereceu ao esquecimento...

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SECRETUM

Eu sei... e tu também...
Desvendámos o mistério de nos encontrarmos na eternidade...
No tempo que desafia a descobrir a sua idade...
No espaço... que se confina ao cheiro do nosso abraço.
Fecha os olhos, meu segredo...
Sente a minha carícia... deixa-me ler-te o desejo... sem medo...
Vem comigo ao limiar da liberdade... de quem se revê no olhar da alma do outro...
Almas reencontradas, festejos, risos, lágrimas, excessos... que ainda assim sabem a pouco.
E o teu convite profano e sagrado,
de homem...
Que sabe tocar a essência do meu jardim alado...
Razão e coração, Alma e corpo, toque e odor...
E a tímida palavra que nos envolve... Amor...
Alquimia... Sintonia, Mago da Natura, da noite... e do dia.
Pedra Filosofal...
Cavaleiro do Graal...
Águas descendentes do Céu, misturam-se com as águas ascendentes da Terra.
(Na tua voz descobri o cântico final, mantra de PAZ... ausência da chama da guerra.)
E na tua entrega... homem que anseia nos meus braços tornar-se um menino...
União a duas almas com o divino...
Purificação , libertação das amarras, da queda redenção...
União a um só coração.
E no meu ventre, de ti molhado, salgado...
Água ardente, Ar, Terra e Fogo húmido... confluem para o momentUM sagrado...
O 'UM'... de novo...
há gerações apartado.
E o oculto se desvenda, quinta-essência...
E assim se cumpre a Roda do Tempo...
Alma, espírito, matéria... transmutada em anulação de ausência.
E assim se cala o lamento...
*
Ni*

sexta-feira, agosto 05, 2011

LEVA-ME... (LEVAS?)



Leva-me,
por entre as luas,
por entre os veleiros,
por entre as palavras,
por entre os azuis,
por entre as certezas,
por entre os teus braços.
E não me deixes voltar à tristeza.
Nunca mais.
*
Nina Castro, in 'Cartas a um Amor Futuro I'

COMO BARCOS VERMELHOS...

Post resgatado ao tempo...

 
Pintura: Jia Lu - Adrift

Ela abraçou as palavras e a seguir despiu-as, letra a letra, devagar, como barcos vermelhos que lhe saíam dos dedos. Em silêncio. Como um ser alado da noite. Criatura onírica, transparente, indizível e única. Trazia no espelho do olhar todas as mulheres que ousara ser. Olhou-o de frente, como se olhasse para a estrela da manhã, e murmurou-lhe:
'- E pela última vez te contarei como me pinto de asas em noites de paixão. E pela última vez te segredo que fui flor de papel de seda colorido e fui menina com tranças em frágeis laços de papel de lua e fui noiva em moldura de flor de laranjeira e fui palhaço de rábulas surrealistas e delirantes e fui princesa de povos mágicos e dolorosamente reais e fui pérola tão impossível de tão pura e fui segredo em silêncio de homens proibidos e fui mulher em chamas vestida de negro e fui jardim onde repousas as ternuras que não confessas e fui jóia que usaste ao peito como medalha e fui sereia para que tu fosses capitão e fui pirata para que usasses o tesouro que era meu. E hoje, meu amor, desejo apenas que digas o meu nome...'

Nina Castro, in 'Cartas a um Amor Futuro' (excertos)