
Junto ao barco aceito a minha chegada definitiva ao porto do tempo.
O vento insinuava-se nas velas e respirava o teu perfume como se o conhecesse.
O teu cheiro paira no meu ar e sei que andas perto e tu não sentes nada?
Nunca perguntes o que é a vida. Ela é sempre mais, ela está sempre além da resposta.
Talvez seja melhor perguntares se vives.
Terás a tua noção da vida, errada ou certa ninguém saberá, a não ser ela, a própria vida.
Vive juntando à tua existência bastante entusiasmo e se o fizeres, se isso for possível, estarás próximo do meu conceito, talvez seja melhor dizer, do meu sentimento de vida.
Cada vez mais acredito que é sempre o mesmo, o poema escrito.
O resto cai em lágrimas.
Nunca sei para onde me atirar de cabeça, apenas que todo o vencido é um vencedor.
E que o mar é imenso e que nunca pára.
Junto ao mar (o mar branco de espuma amiga) guardei uma pedra partida que me disse que só o amor e amizade se completam.
(E) em todos os sorrisos renasci.
~*~
João Sevivas, excertos escolhidos por mim e reunidos num poema renovado... sem o consentimento prévio do autor, (ai, que isto não se faz!).
*
Ni
*
João Sevivas: nasceu em Castro Daire, em 1954. Licenciado pela Universidade de Coimbra, exerce advocacia... e é um dos grandes poetas da actualidade. Segundo as suas próprias palavras: «sou apenas um desenhador de momentos».
Obras: Flor de abril (1989), Para ti (1990), Peixinho solitário (1990), Fin del mal (1991), Los últimos momentos de una mentira (1992), El grito (1993), Os calos da alma (2001), Os sons da noite (2002), Cosas (2003), Redemoinho (2003), Momentos (2005), Terra (Alejo, 2007).