sábado, janeiro 31, 2009

SE TE ESCREVER UM POEMA...

Ofereço-te o meu silêncio de ilha secreta,

com areias e corais,

embrulhado em som de seda.

Diz-me...

Se te escrever um poema, voltarás?


A palavra dissipa as brumas brancas,

a memória fica água límpida,

abraçada à minha caligrafia,

e amaina os ventos que nascem no mar de asas,

dentro dos meus olhos.


E eu, que te nego tantas vezes três vezes,

sei que o poema é o único local

onde podemos repetir o lume das nossas mãos.

Se te escrever um poema, voltarás?

*

Ainda que tenha rima branca,

volta...

No azul da palavra saudade,

ou no traço-luz de saliva sobre a minha pele,

que desenhei em cada despedida de silêncio sem rumo.



Diz-me... se te oferecer no poema

cerejas rubras e doces,

em palavras lavadas e renovadas,

sobre a minha nudez espalhadas...

Mel e ambrósia, embalo e banquete

sobre o meu ventre, quente...

Tu virás?

*

Ni*






19 comentários:

Catarina Alves disse...

O poema já está escrito há muito tempo no olhar. Apenas as mão recusam, negam escreve-lo.

'E descobre que todos somos ilhas… até que nos ligamos pelo afecto' :)

Lembro-me de uma despedida, já há tanto tempo… "nunca será um adeus… uma música, um cheiro, um momento… nunca vai haver separação." Mesmo que doa… e eu sei que dói, muito.

Voltar? Sim… voltará. As tulipas amarelas voltarão a nascer, o salgado do mar será igual, e as cerejas colhidas com sorrisos terão o mesmo sabor.

Voltará sempre….


Abraço de afecto,
Gosto-te muito.

Ni disse...

Todos somos ilhas, até que nos ligamos pelo afecto...

Sorrio.
A frase que tive durante tanto tempo no msn...
... agora, surge apenas: .......^^

As asas que partem serão iguais às asas que regressam?

Abraço sentido.

Ni* (Em dia de perguntas... Há dias assim...)

Anónimo disse...

Felizmente que não sei o que é qurer falar e não ser capaz, mas jugo que deve ser parecido com o agora senti, ao acabar de reler mais este poema.
Quereria eu agadecer com outro mais lindo ainda, que encantasse esta querida Ni*.
Um beijo muito terno
João Miguel

Anónimo disse...

Voltar já não é uma questão de vontade !
É uma questão de encantamento.
João Miguel

Ni disse...

JOÃO MIGUEL:

Sorri, ao ler os teus comentários.

Todos os meus amigos/as são exagerados/as... (?!)

Agradeço-te as palavras de carinho.

Ni disse...

«Catarina Alves deixou um novo comentário na sua mensagem "SE TE ESCREVER UM POEMA...":

Mestre,

As asas partem?

... »

Para onde «voou» este comentário? Tinha a notificação no email, mas não está no blogger!

...

CATARINA:

Essa é uma pergunta de Mestre, não de discípula.

...
E como aprendiz respondo-te que as asas «despem-se»... «ferem-se»... mas nunca se partem... nem partem sem nós. Muitas vezes... nós é que nos esquecemos delas...

OUTONO disse...

Por nada...
Voltaria ao silêncio
Da tua ilha secreta...
Onde cada grão de areia
É poema do teu escrever!

Por nada...
Voltaria à tua memória
Onde afago as lágrimas
Dos teus olhos corais
Na ânsia do teu poemar !

Por nada...
Voltaria ao teu desejo
E ocultaria a tua nudez
Com cerejas doces e frescas
Num sôfrego beijo sem rumo!

Por nada...e por ti!

OUTONO

Catarina Alves disse...

(Minha) Mestre, :)

está aí a resposta à primeira pergunta.

As asas não partem... por isso... (não são iguais) são as mesmas... em todo o tempo.

É impossível esquece-las... principalmente quem trás memórias do sempre.

Abracinho

Ni disse...

OUTONO:

Inspiração profunda...

Lindo, o teu poema!

Obrigada pela partilha de emoções...

Ni disse...

CATARINA:

Suspiro.

Somos mestres de nós mesmos, à medida que construímos o caminho. Não atribuas essa palavra a outra pessoa... és tu que constróis o teu saber.

Quanto às 'asas'... ainda que as mesmas... nada (nem ninguém) é imutável.
E é essa fragilidade do momento que devemos ter presente, quando falamos em 'sempre' ou em 'nunca'.

Memórias são registos, activos, vivos, de quem somos. ('Eu sou a minha memória', disse-o várias vezes em aula... lembras-te? Apaguem-nos a memória e perdemos as coordenadas... ficamos à deriva. Ainda que pensar 'doa', como diz 'O' poeta, é no pensamento que somos livres. Livres, até, de caminhar no sentido inverso na espiral do termpo...)

Alberto Campos disse...

Ah...as palavras!
A memória da ilha eterna onde vivemos.
Ah...se me escrevessem um poema, voltaria...
Se me escrevessem um poema não partiria...

Marco Alexandre Cavalcanti disse...

Meio-dia meia-lua
(Na ilha de Lia, no barco de Rosa)
Edu Lobo - Chico Buarque/1987-1988
Para o balé Dança da meia-lua





Quando adormecia na ilha de Lia
Meus Deus, eu só vivia a sonhar
Que passava ao largo no barco de Rosa
E queria aquela ilha abordar
Pra dormir com Lia que via que eu ia
Sonhar dentro do barco de Rosa
Rosa que se ria e dizia nem coisa com coisa

Era uma armadilha de Lia com Rosa com Lia
Eu não podia escapar
Girava num barco num lago no centro da ilha
Num moinho do mar
Era estar com Rosa nos braços de Lia
Era Lia com balanço de Rosa
Era tão real
Era devaneio
Era meio a meio
Meio Rosa meio Lia, meio
Meio-dia mandando eu voltar com Lia
Meia-lua mandando eu partir com Rosa

Era uma partilha de Rosa com Lia com Rosa
Eu não podia esperar
Na feira do porto, meu corpo, minh'alma
Meus sonhos vinham negociar
Era poesia nos pratos de Rosa
Era prosa na balança de Lia
Era tão real
Era devaneio
Era meio a meio
Meio Lia, meio Rosa, meio
Meio-dia mandando eu voltar com Lia
Meia-lua mandando eu partir com Rosa
Na ilha de Lia, de Lia, de Lia
No barco de Rosa, de Rosa, de Rosa

Anónimo disse...

Ai...que acidez nãoa doça com essas palavras? terno e arrepiante

☆Fanny☆ disse...

Olá!!!

Venho pé ante pé... não quero perturbar a melodia encantada das palavras nem este som que nos leva nas asas do vento para um local sem tempo...

...

Queria deixar-te, timidamente, um mimo “Forever Friends”...

Está lá no meu blogue à tua espera...

Pela amizade que partilhamos desde crianças... hoje e sempre.

Beijinhos de estrelas*
Fanny

Anónimo disse...

Acho o final do poema lindo. Acredito que quando se faz amor com quem se ama se comungam corpos. É a intimidade do amor, no momento mais desprotegido e verdadeiro.
Um beijinho
Teresa

Desassossego disse...

Eu voltarei, eu volto, e re volto... sempre com a sensação, que foi só um instante de ausencia...porque os sentires permanecem, porque a ternura mágica continua... porque a sensação de conforto está em cada palavra partilhada... que bommm...

Beijo doce...

Cleopatra disse...

Diz-me...


Se te escrever um poema, voltarás?

Há almas que se cruzam no tempo, em espaços intemporais e sentem a mesma palavra e a mesma escrita no mesmo espaço...
Ainda hoje pensei a sério no que aqui escreves e só hoje li...
E pensei perguntar o mesmo...

Sorriso... e tu sabes porquê.

Cleopatra disse...

Ni,... pela Magia que provocas em quem te lê e pelos momentos mágicos que me fazes viver e reviver, há lá um prémio também para o teu blog.

Claudia Sousa Dias disse...

muito bons os teus poemas.

já os publicaste?

CSd