
Estou a escrever envolvida pelo calor da lenha feita fogo, portátil sobre as pernas cruzadas em frente à lareira, a beber lentamente um pouco de licor de cacau - raro, muito raro... este licor e o beber álcool - e a ouvir Dire Straits... Why Worry. Filhos e gata dormem... sorriso. E permito-me este tempo, tão meu e cada vez mais raro, de sentir enquanto escrevo tranquilamente. Hoje preciso.
Uma resposta que o Manel do blog O ANÓNIMO escreveu a um comentário de uma amiga deixado no post mais pequeno que li escrito por ele: «Ofereceram-me hoje uma rosa branca.»... fez-me sorrir, como se sorri quando entendemos que alguém sente algo semelhante ao que sentimos e não verbalizamos, porque acreditamos que nos poderiam interpretar mal... e como nos faz mal quando nos interpretam mal (a repetição é deliberada!).
A amiga sugeria que uma rosa vermelha era o que lhe fazia falta... e dizia-lhe: «(...)Toca a andar por aí, a pensar que alguém te vai oferecer flores (rosas, quiçá ?) vermelhas!»
O Manel respondeu:
Não, ... , não é bem disso que eu preciso. O que preciso é de encontrar alguém que me obrigue a ir à primeira loja de flores comprar rosas vermelhas, não a perder de vista e entregar-lhas :-)»
Fez-me sorrir e fez-me pensar e fez-me dizer baixinho, tão baixinho que as palavras só se ouviram dentro de mim, «Como te entendo!». Mais do que a carência de receber é a vontade de (se) dar. Mas, para se dar, é imperioso algo que com os anos que se somam em nós, roubando-nos a idade da inocência, o acreditar... cada vez é mais raro: sentir. SENTIR! Assim... com maiúsculas, com garra... S*E*N*T*I*R! Um sentir que nos faça ver estrelinhas e poesia em tudo, que desperte em nós a vontade de rir e de dançar na rua, de olhar alguém fixamente nos olhos e esperar que o tempo cristalize, como açúcar, naquele momento. Sentir. Outra vez, como se fosse a primeira vez.
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Eu acredito que o Manel vai conseguir voltar a sentir assim. Homem inteligentíssimo, com um sentido de humor refinado, tímido (embora não pareça), excelente pessoa. Vai conseguir porque merece. Merece ser feliz. E porque é tempo de o ser!
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A lareira está a adormecer... apenas algumas brasas-luz da cor das rosas que todos gostaríamos de gostar de receber e de oferecer me dizem boa noite...
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Ni* (a poucas horas de assistir ao funeral de um amigo. E porque só o que sentimos e fazemos sentir são linhas de tinta musical na história da nossa vida - tão breve - reformulo o meu desejo para este ano: ACREDITAR. Acreditar que será o melhor ano da minha existência, porque já esgotei todos os maus...)
Why Worry - Dire Straits