sexta-feira, junho 08, 2007

A TUA AUSÊNCIA DÓI-ME



Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
Ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
Magoa, que se limita à alma; mas que não deixa,
Por isso, de deixar alguns sinais - um peso
Nos olhos, no lugar da tua imagem, e
Um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes
Tivessem roubado o tacto. São estas as formas
Do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
As coisas simples também podem ser complicadas,
Quando nos damos conta da diferença entre o sonho e a realidade.
Porém, é o sonho que me traz a tua memória; e a
Realidade aproxima-me de ti, agora que
Os dias correm mais depressa, e as palavras
Ficam presas numa refracção de instantes,
Quando a tua voz me chama de dentro de
Mim - e me faz responder-te uma coisa simples,
Como dizer que a tua ausência me dói.


Nuno Júdice


(O maior poeta português vivo... para mim)

4 comentários:

Rui Gonçalves disse...

Este texto - poema de Nuno Júdice (que a minha ignorância se reflecte no ignorar) é lindíssimo.
Lindo de doer. Lindo demais, por que doi demais, ... a ti, a mim, a todos a quem falta alguém e a mim, falta.

o sibilo da serpente disse...

Bonito poema, como são bonitos os poemas que falam de ausências e são bem escritos, e como é bonita a vida quando as ausências matam, muito mais bonita do que quando nem saudades da ausência se tem.

Apache disse...

E como nos doem algumas ausências…

Cleopatra disse...

E já lemos isto..Já escrevemos sobre isto
Já sentimos (sobre) isto.