quarta-feira, abril 07, 2010

SE TE ESCREVER UM POEMA...

Ofereço-te o meu silêncio de ilha secreta,

com areias e corais,

embrulhado em som de seda.

Diz-me...

Se te escrever um poema, voltarás?


A palavra dissipa as brumas brancas,

a memória fica água límpida,

abraçada à minha caligrafia,

e amaina os ventos que nascem no mar de asas,

dentro dos meus olhos.


E eu, que te nego tantas vezes três vezes,

sei que o poema é o único local

onde podemos repetir o lume das nossas mãos.

Se te escrever um poema, voltarás?

*

Ainda que tenha rima branca,

volta...

No azul da palavra saudade,

ou no traço-luz de saliva sobre a minha pele,

que desenhei em cada despedida de silêncio sem rumo.



Diz-me... se te oferecer no poema

cerejas rubras e doces,

em palavras lavadas e renovadas,

sobre a minha nudez espalhadas...

Mel e ambrósia, embalo e banquete

sobre o meu ventre, quente...

Tu virás?

*

Ni*





7 comentários:

Maria disse...

Belíssimo, Ni.
Fico sem palavras.

Abraço-te

LPM disse...

Se me oferecesses um poema feito de sal eu iria, desfeito ao vento.
Na sacra ilha de sacras fontes me banharia na torrente de palavras.

Ia e nas letras notas dessa canção do teu peito, me amortalhava nas eternas areias onde, otrora, na bruma dos tempos esperavas...

Cirse disse...

Nina,este silencio que generosamente oferece,transforma-nos em "poetas":aprendizes,e claro!!!

Promete que continuara a nos encantar?!

Promete,doce menina?!

Beijos de luz pra ti!

Cirse.

Anónimo disse...

Recordo-me de uma vez lhe ter dito que achava belíssimo este seu poema. Encanta-me por isso vê-lo, uma vez mais, aqui repetido. Eu diria que teve, de novo, o mérito de me arrancar ao meu silêncio defensivo. Invadiu-me uma profunda vontade de lhe vir aqui dizer-lhe isto. Quem sabe se aquilo que este gesto tem de coerência alcança o que na sua memória resta de mim?!

Anónimo disse...

Tive esperança que seguisse a pista que lhe dei.
Estou agora cruamente consciente dessa impossibilidade.
Acreditei até que não editaria o comentário. Como costumava fazer.
Tão parco em inteligência me tornei.
Enfim, pelo menos deu para tomar consciência de que não sou imune ao esquecimento.
Não há privação sem consolo.

Ni disse...

MARIA, LPM, CIRSE...

Um beijo grande, nos vossos olhos, que vêem a beleza dos pormenores da vida e ousam dizê-lo.

Obrigada.

Ni*

Ni disse...

ANÓNIMO...

Sei de quem é o comentário e lembro-me bem de como expressou a sua opinião, generosa, sobre este meu texto. Obrigada!

Quanto ao editar ou não o comentário... só não o tenho feito quando as pessoas expressam voluntariamente essa vontade ou quando surgem ataques pessoais nos mesmos (raramente... graças aos céus...). Posso demorar a editá-los, mas faço-o. Apesar de considerar que o anonimato não se justifica num blogque como o meu, onde me dou em palavras, no rosto e no nome verdadeiro... tenho editado todos os comentários anónimos.

(E não me esqueço de ninguém. Esse é, aliás, um dos meus problemas: «memória de elefante...». Seria mais fácil se assim não fosse ou se passase pela vida de um modo superficial. Mas... é assim que sou e estou.)