terça-feira, novembro 22, 2005

AMOR ESTÚPIDO...




Amor estúpido. Quando podemos dizer alguma coisa é quando estamos calados. Não penses muito, o amor não se pensa. Fingido. Há coisas mais interessantes do que amar o que não se conhece. O amor é uma prova de vida. É um impresso que não sabes preencher. A saudade não tem palavras. Não acredito que dizes ou escreves mal o que sentes. Agora sou amigo do tempo. Conversamos muito sobre ti. É claro que eu estou a sofrer, mas isso também é uma religião. Estou a construir vazios como se fosse possível fugirmos do tempo.
Nunca estive tanto em silêncio.
(...)
Quando me apaixonei não sabia nada sobre o meu amor. O amor é o livro branco do conhecimento onde o tempo escreve os sentimentos de quem ama. Depois das apresentações, depois das definições das identidades de cada um, depois de nos emocionarmos com o pouco que sabemos sobre quem amamos é que começa a verdadeira descoberta do outro. Ir ao cinema ou passear num final de tarde junto ao mar é um truque romântico que nunca falha. Não se pense que os novíssimos apaixonados são sinceros. São sinceros na arte de iludir. No amor, as mentiras são uma ordem emocional e quem mente com paixão não é um mentiroso mas um irremediável apaixonado. O amor é uma guloseima que derrete no coração. Se soubéssemos tudo sobre a pessoa que amamos, se calhar nunca tínhamos querido amá-la incondicionalmente. O amor dura enquanto ainda houver matéria desconhecida no outro. A prova é que ninguém ama do fim para o princípio duma relação. Duas pessoas que se conhecem há muito tempo dificilmente poderão amar-se. O tempo é um filtro de emoções e não admite grandes desordens sentimentais. Posso dar um exemplo: duas pessoas que se amaram muito e depois acabaram tudo; esses dois estão condenados pelo tempo a nunca mais poderem vir a amar-se. O amor esgotou-se no conhecimento excessivo que tinham um do outro. Diz-me há quanto tempo amas e eu dir-te-ei quanto tempo tens para amar.
*
Fernando Esteves Pinto, in 'Sexo Entre Mentiras'

1 comentário:

Pescador disse...

" Diz-me há quanto tempo amas e eu dir-te-ei quanto tempo tens para amar. "
...
Apetece a fugir das palavras que este texto traz... apesar de eu as ter como verdadeiras, de assim senti-las... pelo menos hoje, outrora... não sei !!
Engraçado, tu dizes no mail que sentes que eu te estou a desnudar..., e eu acho que basta olhar para espaços brancos que ficam entre as palavras que escreves...
para te ver ...
nua..
de alma !!
...
Os teus medos, receios, gostos, anseios, sonhos, desejos...