terça-feira, novembro 22, 2005

NÃO QUERO UMA METÁFORA!


«És grande no que escreves e pequeno no que vives...»

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Ser batoteiro a vida inteira. O amor é a pior das doenças sentimentais. O amor incorpora a loucura pela vida. O amor é a infelicidade que te conduz ao sofrimento. Dos sentimentos que tens, é o único que regride. Tenho necessidade de falar da minha vida. Tenho tudo para ser feliz. Falta-me o sentimento para me sentir feliz. O meu sentimento de felicidade está sempre fora das coisas que me levam a ser feliz. Tu, por exemplo, o meu amor, e eu nunca senti o teu corpo. Tu, por exemplo, tu e as tuas palavras, e eu nunca senti as tuas preocupações. Não me obrigues a sentir mais felicidade imaginária. A vida que tenho pode ser um poema que eu nunca desejei escrever. Não quero transformar a beleza numa metáfora. Quase concordo com os dias que vivo. Pensamento por tudo o que é vida. Um dia disseram-me: és grande no que escreves e pequeno no que vives. Claro, não se pode ter duas vidas. Imagino um vento a soprar nas folhas do meu pensamento, a descascar nessa capa dura todos os meus grandes defeitos.
Se queres amar para sempre, nunca acredites em ninguém. Valoriza apenas o teu amor. Ama a partir de ti para os outros e nunca o contrário.

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Tinha pensado na tristeza, esta que eu vivo neste momento. Com tudo o que eu te digo, por mais voltas que dê à minha vida, vou parar aos mesmos lugares. O medo é o mesmo. O meu mal é projectar-me para além daquilo que eu imagino poder viver. Estou sempre a ver mais fundo e a compreender de modo grotesco a simplicidade que a vida me tem reservado. É o meu pensamento a destruir os belos caminhos da felicidade. Deixa-me dizer-te uma coisa: vou desistir. Não vivo sozinho e nunca havia pensado nisso. Tenho de olhar também para os outros e reconhecer-me no amor que eles têm para me dar.
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Fernando Esteves Pinto, in 'Sexo Entre Mentiras'
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'Nasce Selvagem'

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