
«...
Já fizeste um dominó? Já pensaste que a existência humana é, tantas vezes, assim? Passamos dias, semanas, meses, anos, a construir os nossos sonhos e, num breve instante, alguém tropeça neles e tudo se desfaz e desmorona, numa sucessão de azares impossível de travar.
Quando o meu dominó começa a cair, junto-lhe mais peças na cauda e aproveito para limpar fantasmas na enxurrada. Ao menos sofro tudo de uma vez, condenso a frustração num par de dias e fico a enxaguar a tristeza até ela secar ao sol.
Depois, com muita calma, começo a montá-lo outra vez e, aos poucos, vejo-o crescer sozinho, como se o embate que faz cair as peças tivesse o poder de as levantar.
...
Sou e serei a mulher mais persistente que se cruzou no teu caminho.
...
Sísifo, filho de Éolo e rei de Corinto, é a encarnação da fadiga eterna; durante dias, meses, anos, séculos, tentou colocar no alto de uma montanha uma enorme pedra. No entanto, cada vez que se aproximava do cume, a pedra caía, resvalando pela encosta abaixo, obrigando-o a começar de novo a ingrata e árdua tarefa.
Serei eu tão insensata a ponto de fazer o mesmo com os meus sonhos?
... »
Ni*... numa noite em que me escondi do sono.