Não consigo começar a escrever. Um toque do meu telemóvel anuncia a entrada da mensagem escrita... outro avisa-me da chegada de mais um 'mail'...
As respostas tornam-se necessárias e querem-se rápidas, imediatas. E tenho pena. Pena, por ter de acelerar a minha capacidade de resposta na ponta dos dedos. Pena, por não poder saborear devagar cada letra, como as desenhadas a canela num chocolate quente.
Esta comunicação é, tantas vezes, o sorriso esperado no dia, mas tantas vezes evita que as pessoas se olhem e se saboreiem com o olhar, se deliciem no prazer dos gestos, na forma a informar a forma. Os dedos levam-nos a conta-gotas até ao outro, um conta-gotas rápido de mais.
Para mim... uma amizade, uma relação, constrói-se 'à moda antiga', cumprindo etapas, marcando encontros, pensando a dois. Ou tocando. Na mão do outro. Há alguma coisa que se compare aos olhos do outro? Por isso gosto tanto dos olhos. Gosto da luz líquida dos olhos.
...
E gosto de gostar devagarinho.
Gosto que me vejam abrir a porta com os cabelos primeiro, depois com os olhos e no fim com o meu sorriso habitual.
E de ser por mim que esperam. Pelo sabor da minha pele, pela luz macia da minha voz, pelos gestos do meu olhar... que não cabem nas palavras.