quinta-feira, abril 27, 2006

O 43201º MINUTO




Às vezes, acontecem, na nossa vida, momentUS assim.
Em que um mês não são trinta dias. Em que um mês não é, apenas, mais um mês. Às vezes, acontecem, na nossa vida, meses que são 43200 minutos em que nascemos. Nascemos nas palavras e nos gestos que redescobrimos, no desejo que não calamos, na ternura que em nós transborda, no prazer que nos enche o corpo e a alma. Nascemos na voz e nascemos na pele e nascemos, ainda, no sorriso. E na paixão. Às vezes, acontecem meses, na nossa vida, em que nascemos. Apenas nascemos. Às vezes, acontecem momentos nas nossas vidas em que não nos preocupamos como será daqui a um mês ou daqui a um ano. Às vezes, acontecem meses na nossa vida em que só o 43201º minuto conta.


... e nesse, eu estou contigo.


Ni*

sábado, abril 08, 2006

O ZAHIR...


ZAHIR
«Segundo a tradição islâmica, o Zahir é algo ou alguém que, uma vez tocado ou visto, nunca é esquecido - e vai ocupando o nosso pensamento até nos levar à loucura...»
..::..
«O meu Zahir tem um nome, e o seu nome é Esther»
..::..
Assim se nos apresenta o narrador deste romance de Paulo Coelho.
O Zahir é a sua esposa, Esther, com quem é casado há mais de dez anos. Tudo parecia bem entre eles, até ao dia em que ela desaparece sem deixar vestígios. A polícia coloca várias hipóteses:
rapto, assassínio e envolvimento com terroristas – ela foi correspondente de guerra no Médio Oriente – sem chegar a uma conclusão.

Mas ele, o marido, sabe a resposta: ela abandonara-o simplesmente sem se despedir, sem dizer para onde ia nem por que o fazia . Esther saiu da sua vida e acabou por ocupar a sua mente pois, diante de tantas perguntas sem respostas, para ele tornou-se impossível parar de pensar nela. Por que ela desistiu? Onde está agora? Com quem está? As interrogações não o deixam encontrar a paz e acabam por guiá-lo numa viagem em busca da esposa desaparecida e de si mesmo.

"O Zahír" é uma história de grande subtileza e coragem e uma reflexão cuidada acerca do verdadeiro preço dos compromissos que assumimos na e com a vida.

Recomendo a leitura deste livro. Sei que Paulo Coelho é um escritor que provoca reacções extremas: idolatra-se ou abomina-se (por vezes sem se conhecer a obra, apenas porque a elite intelectual decidiu denomina-lo superficial, comercial).

Há livros de Paulo Coelho que valem por uma frase, uma só. Como uma espada que nos trespassa, nos incomoda, nos agita, nos obriga a reagir, a SER.

O Zahir é diferente. Intenso. Todo. Total.
Talvez porque, mesmo sem o assumir, é a sua verdade de «vida vivida».
Há passagens que reli inúmeras vezes.
E de cada vez me acrescentava algo.



Deixo um excerto. Se depois de o lerem ficarem pacificamente indiferentes... esqueçam este post.

« - Digamos, então, que preciso de estar sozinha.
(...)
- O que é que está mal na tua vida?
- Justamente isso. Tenho tudo, mas estou infeliz. Não sou a única, no decorrer destes anos convivi ou entrevistei todo o tipo de pessoas: ricas, pobres, poderosas, acomodadas. Em todos os olhos que se cruzaram com os meus li uma amargura infinita. Uma tristeza que nem sempre era aceite, mas que estava ali, independentemente do que me diziam. Estás a ouvir?
- Estou a ouvir. Estou a pensar. Na tua opinião, ninguém é feliz?
- Algumas pessoas parecem felizes: simplesmente não pensam nisso. Outras fazem planos: vou ter um marido, uma casa, dois filhos, uma casa de campo. Enquanto estão ocupadas com isso, são como touros em busca do toureiro: reagem instintivamente, seguem em frente sem saberem onde está o alvo. Conseguem o seu carro, às vezes até conseguem o seu Ferrari, acham que o sentido da vida está ali, e nunca fazem a pergunta. Mas, apesar de tudo, os olhos mostram uma tristeza que nem elas mesmas sabem que carregam na alma. És feliz?
- Não sei.
- Não sei, são todos infelizes. Sei que estão sempre ocupados: fazem horas extra no trabalho, cuidam dos filhos, do marido, da carreira, do diploma, do que fazer amanhã, do que falta comprar, do que é preciso ter para não se sentir inferior, etc. Enfim, poucas pessoas me disseram : "Sou infeliz". A maioria diz-me: "Estou óptimo, consegui tudo o que desejava." Então pergunto: "O que o faz feliz?" Resposta: "Tenho tudo o que uma pessoa pode sonhar - família, casa, trabalho, saúde.". Pergunto outra vez: "Já parou para pensar se isso é tudo na vida?" Resposta: "Sim, isso é tudo." Insisto: " Então o sentido da vida é trabalho, família, filhos que vão crescer e deixá-lo, mulher ou marido que se transformarão mais em amigos do que em verdadeiros apaixonados. E o trabalho vai terminar um dia. O que fará quando isso acontecer?" Resposta: não há resposta. Mudam de assunto. Na verdade, respondem:" Quando os meus filhos crescerem, quando o meu marido - ou a minha mulher - for mais meu amigo do que um amante apaixonado, quando eu me reformar, terei tempo livre para fazer o que eu sempre sonhei: viajar." Pergunta:" Mas não disse que era feliz agora? Não está a fazer o que sempre sonhou?" Aí sim, dizem que estão muito ocupados e mudam de assunto.
Se eu insisto, acabam sempre por descobrir que estava a faltar alguma coisa.»


Paulo Coelho, in 'O ZAHIR'


quarta-feira, abril 05, 2006

PASSOS PERDIDOS



Passos Perdidos

Ni*

Não quero falar de amores.
Nem cantar outroras felizes
e presentes com asas de dores!
Amores idealizados
são verbos no passado conjugados.

São fontes-cascatas-miragem
Horizonte, sem voos nem ponte,
para a outra margem.

São sentidos sem sentido.
Onde, em vez do teu abraço consentido,
de intemporais afagos incontidos,
mergulhei em passos perdidos.

Não quero falar de amores.
Nem contar porque não canto
os seus alegres ou sofridos gemidos.

Nina

Lisboa, 5/4/2006

sábado, abril 01, 2006

ÉS PARTE DE MIM

...*...
*
Os barcos, sem rota marcada,
que abrigo no meu olhar
Acenderam velas ao vento,
Soltaram amarras do lamento,
Têm vontade de mar...
Libertos de âncoras de naufragar.
Amantes da renovada madrugada...
...
A vida... VIDA...
Lembras-te do sabor de a SER?
O padrão de todas as descobertas!
O caminho das escolhas certas.
Ainda que sempre incertas...
sem cartas de marear...
Liberdade de ir e voltar
Sem nada a isso nos obrigar.
E só assim...
vale a pena ousar!
...
Com ou sem lua,
dispo-me de águas estagnadas!
Tal como tu,
sou de nascentes e poentes.
De rios e afluentes.
De águas ascendentes.
De tudos,
porque dobrei o Cabo dos Nadas.
...
Se és parte de mim... não fiques.
De ti não abdiques.
Ficar é regredir.
E eu quero ir!
...
Sabes, a vida perdida...
Ainda vamos a tempo de a redescobrir!
Conjugá-la como um verbo.
Como se fosse um campo de bem-me-queres,
bem-te-quero...
em pleno mar.
Suspenso.
Em cada momento de respirar.
...
E tu calas-te.
Acho que foi por tanto te ter procurado
que em mim nos encontrei....
Suspeito, suspeito só por um instante,
se não andarás tu à procura da lua....
E a lua respira em ti,
porque és parte de mim.
...
...Sabes há quanto tempo não me sentia tão leve?...
...
Sei!
Ni*