Ouço-me, frente a ti, a falar da chuva que marcou encontro bailado com o frio, e a minha voz segue, sem que eu a acompanhe, porque toda eu me aninhei na tua mão, que desenha na minha caminhos cruzados. Não quero falar do tempo. Nem dos anos que nos marcaram, a silêncio-ferro e mágoa-fogo, nem dos ventos que nos atravessaram. Cortantes, lâminas mutiladoras, impiedosas, de quem soubemos proteger a nossa inocência. A minha, guardo-a nos olhos, onde criei refúgios em horizontes líquidos e silêncios sem muros. Não temo que me saibas. Que me leias. Nem entendo o porquê da minha mão, quase adormecida num porto de abrigo (que não prende, apenas me convida a ficar, como quem vela pelo meu sono), se esgueirar, em sucessivos sobressaltos, como criança tímida a quem perguntam o nome. Os meus olhos não têm portas fechadas. São casas habitadas por sonhos guardados com ternura, em arcas sem fechaduras, como quem guardou o calor dos risos da infância ou a cumplicidade dos primeiros passos ao lado de outros passos. Tenho medo que penses que tenho medo. Gostaria que me dissesses que sabes que não quero falar do tempo. E que o meu olhar pode encontrar no teu um Norte e também um Nascente. Um ponto que me sorria e por ele me Oriente. Gostaria de te segredar que era apenas atrás da esperança de ti que percorri o mundo, mas tu partias sempre na véspera de eu chegar. Agora que estás aqui... embala-me nos teus olhos ternos.
Nina
(Texto s.d.)
1 comentário:
Os meus olhos também não têm portas fechadas.
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