quarta-feira, março 31, 2010

NUMA RENDA FINA QUE SE DESFAZ AO TOQUE...


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Esta palavra AMOR...

Ousadia pronunciá-la, sobretudo quando somos os primeiros a afirmar 'Não sou a pessoa mais indicada para falar dele neste momento...'. Não sou, sei-o. Do amor verdadeiro, despojado de tudo, intenso e brutal, que com beijos se torna profícuo, triunfal, capaz de transportar montanhas e despertar cidades adormecidas.

É através desse amor que se desfazem laços, se voltam páginas e se viram costas. Abrem-se novas esperanças, esfarrapam-se vidas, trocam-se destinos, tecem-se sonhos, linha por linha, numa construção nem sempre pacífica, mas, paciente, demorada, que envolve e progride entre risos e lágrimas emoldurando uma história feita de instantes, feita de imagens tantas e tantas vezes, na essência, desfocadas.

É através desse amor, tão comum e tão singular, que o sol dá lustro ao dia e a lua enfeita o seu espaço no céu, o acordar é mais leve, o adormecer mais sentido, os nossos passos elevam-nos e as palavras rodopiam, loucas, numa eterna ânsia de recomeço.

Subtil quando chega, destemido e poderoso, denuncia-se no olhar inundado de brilho, entrega-se em duelos, fulmina em cada demanda e redime-se no perdão.

Etéreo. Diáfano. Sensível. Numa renda fina que se desfaz ao toque.

Chega, em espelho. Esse amor reflectido baila no ar, numa verdade líquida e transfigurada porque é nosso, só nosso.

Ele repousa em cada segundo que deixamos por aí ao som do ar, ao toque da areia fina, a fluir sem sentido, sem rumo, num acaso encantado. Esse amor tão verdade, dádiva tão profunda e só, que desajeitadamente misturamos com tudo.

Chamam-lhe ternura, chamam-lhe cumplicidade, chamam-lhe amizade, chamam-lhe sexo. Dá por todos esses nomes, camuflado, a nosso gosto lá está, a confundir e a baralhar, a fazer batota e a esgueirar-se, escondendo-se disfarçado.

Mascarado de prazer, mascarado de dor, mascarado de paixão, mascarado de nada e, tanto faz, o amor sabe o que é. A correr veloz, surpreendendo-nos com a pressa ou, em câmara lenta, no reviver continuado de todos os takes.

Não importa o nome, a categoria. Quando chega reconhecemo-lo na alegria, na intimidade, na serenidade, na euforia. Sussurra e grita na nossa alma, dura e perdura nas nossas mãos, profetiza...

O amor impõe-se.

Não há dia nem noite que o apague, não há maré que o arraste, nem rochedo que o arrase. Forte como o vento, vulnerável como as nuvens, simples, tão simples que não há também palavra que o dite e já tantas correram o mundo e já todos doutrinaram sobre ele.

Mas, nenhuma palavra é tão pouco, ou tão tanto, que lhe baste.

A linguagem do amor... esse poder inabalável que transfigura e regenera, ameaça e corrompe, reconcilia e comove...

...e até acreditamos nele. Até acreditamos.


Ni*

2 comentários:

Cirse disse...

Nina querida,Amor e sempre uma descoberta que no deixa perplexos,sem noçao da sua real importancia, mais absolutamente felizes!!!

Obrigado pela fartura de emoçao presente aqui!

Carinhosamente,

Cirse.

Anónimo disse...

muito bonito este texto. lê-se como água.