segunda-feira, janeiro 07, 2008

COMO BARCOS VERMELHOS...

Pintura: Jia Lu - Adrift

Ela abraçou as palavras e a seguir despiu-as, letra a letra, devagar, como barcos vermelhos que lhe saíam dos dedos. Em silêncio. Como um ser alado da noite. Criatura onírica, transparente, indizível e única. Trazia no espelho do olhar todas as mulheres que ousara ser. Olhou-o de frente, como se olhasse para a estrela da manhã, e murmurou-lhe:
'- E pela última vez te contarei como me pinto de asas em noites de paixão. E pela última vez te segredo que fui flor de papel de seda colorido e fui menina com tranças em frágeis laços de papel de lua e fui noiva em moldura de flor de laranjeira e fui palhaço de rábulas surrealistas e delirantes e fui princesa de povos mágicos e dolorosamente reais e fui pérola tão impossível de tão pura e fui segredo em silêncio de homens proibidos e fui mulher em chamas vestida de negro e fui jardim onde repousas as ternuras que não confessas e fui jóia que usaste ao peito como medalha e fui sereia para que tu fosses capitão e fui pirata para que usasses o tesouro que era meu. E hoje, meu amor, desejo apenas que digas o meu nome...'
Ni*, in 'Cartas a um Amor Futuro' (excertos)

17 comentários:

Excelsior disse...

...e ele, dir-lhe-ia: "O teu nome é Amor. De todos os títulos, de todas as denominações, de todos os nomes dados ou impostos, oferecidos ou auto-criados, nenhum te descreve mais. Este, é o nome que te conta, para além de todas as descrições. Não um termo trocado quase levianamente entre amantes que se perdem em entregas mútuas, mas sim a denominação de um Estado, de um Poder que existe para além de todos os Poderes, de tão inefável. Tal nome, é o traço que circunscreve e delimita o Infinito do teu Ser."

...

"...O teu nome é Amor."

Excelsior

luar perdido disse...

Olá "Nininha", feliz 2008 antes de mais.
Despir as letras da forma como fazes, em barcos vermelhos ou negras ondas, em marés de d'ouro, ou temporais de prata...É unica a tua escrita. Que nos seja possivel sermos, as princesas, as pérolas, as flores da papel ou fores de laranjeira, tudo e nada, o maior o mais minúsculo dos seres, apenas um raio de luz, ou uma particula de pó....Apenas SER!
Está LINDO!

Beijo de doce luar em ti

Ni disse...

EXCELSIOR:

Belíssima resposta, a 'dele'!
Excelente escrita, a tua!

«Tal nome, é o traço que circunscreve e delimita o Infinito do teu Ser.»

...

E agora? Será que ela esperava tal resposta? Será que ele a surpreendeu? Será que ele conseguiu inverter esta última vez anunciada?

«E pela última vez te contarei como me pinto de asas em noites de paixão.»

...
Não sabemos como se comportam personagens com alma de barcos vermelhos... que sentem o apelo de 'IR'...

Muito, muito boa a tua contribuição para este post!

Ni disse...

LUAR:

Gostei tanto do miminho! :) São poucas, muito poucas, as pessoas que me chamam Nininha. E eu gosto. Dá-me o conforto de me sentir de novo pequenina e de acreditar estar protegida pelos afectos que abraçam e nunca vão... como só acreditamos na infância.

Obrigada! :)
Um doce e terno abraço de flores de seda para ti...

Fernando disse...

E ele diria:
"Será a última vez que me contas em como te pintas de asas em noites de paixão...Mas eu digo-te, as noites de paixão ainda vão trazer asas, não como as quais em que te pintas, mas como aquelas que nenhuma tela consegue abarcar, como aquelas que nenhum artista consegue traçar, como aquelas que outrora foram tuas. Asas celestes, asas inquebráveis. Segreda-me o teu último segredo, pois eu te mostrarei palavras novas para voltares a segredar ao homem proibido. Todos os teus jardins ainda são grandes para figurarem nesse teu retrato de noiva em moldura de flor de laranjeira, ainda maior.
Estremeço quando um o meu barco velho, sair das brumas e te recolher, para juntos, encontrarmos um porto seguro...E sim. Direi o teu nome quando tu soprares também o meu, ao vento...às marés. Por entre os escombros dos barcos velhos e esquecidos...

Excelsior disse...

...

*corando. e rindo encabulado. mesmo*

Ni...

...eu... eu escrevo o melhor que sei e consigo, aquilo que plenamente sinto. :) E o sentir "dele" é tão simples de depreender... ecoado, reflectido, do "dela".

É muito fácil, deixar fluir as minhas palavras, com as tuas como fio condutor. Há em mim, deveras, uma consonância, com a construção de figuras de cristal e sal, que tantas vezes esculpes, em toques de cetim e sol, com o escopro da Palavra. Mas com honestidade, tenho de o dizer: não as sinto à altura. Mas são... tudo, de mim. Penso que pelo menos por isso... valerá a pena tentar "soltá-las"...

...O que ela fará... é uma incógnita, para mim. O que ela sente, pressente e deseja, num apelo velado, numa despedida que diz "vou", e ao mesmo tempo pede "faz-me ficar"... não tanto...

...E se ela decidir algo diferente? Nem um ela ir só, nem um ficar com ele...?

...E se... porventura... ela se virar e lhe disser... "vem"?

...Em Naus de Vermelho e Verde, rumo à linha onde o interminável do Azul do mar e o Azul do céu, se beijam eternamente...?

...Por vezes, está-se onde não se fez por merecer estar... e por vezes, deve-se "ir" em viagem, rumo à plenitude de uma felicidade merecida, oferecida... mas porquê, solitária? Porque não... partilhada...?

...Perguntas de quem pouco sabe... mas muito sente e sonha...

...e que detesta admitir, mas é um romântico inconfessado, e gosta... muito... de finais felizes, em histórias (exageradamente) sofridas...

... :)

...Muito obrigado, Ni, por teres gostado... por me fazeres sentir bem-vindo.

Ni disse...

HYOMA:

Destaco:

«Todos os teus jardins ainda são grandes para figurarem nesse teu retrato de noiva em moldura de flor de laranjeira(...)»
...

Jardins... de afectos.
Muito bonito!
...
«Asas celestes, asas inquebráveis.»(...)«como aquelas que outrora foram tuas. »
...

Será que as asas celestes são inquebráveis, Hyoma? E se ela lhe disser que despiu as asas celestes quando mergulhou no portal... para o vir procurar? E se ela dançar na linha dos versos que povoam o portal de regresso... e onde outrora era asas, agora for ferida? E se o portal de regresso só tiver memória dos passos de luz... desacompanhados?

«Direi o teu nome quando tu soprares também o meu, ao vento... às marés»

Talvez ela o tenha feito toda a vida. Por isso as marés se esqueceram de ser traiçoeiras e transmutaram-se de vazias em ... cheias... de barcos de papel de seda... de cor rubra.

...

Agradeço o teu contributo para este post, através do teu belo comentário!

Ni disse...

EXCELSIOR:

«...E se... porventura... ela se virar e lhe disser... "vem"?»
...
Será que ela inverteria a enumeração do que foi.... para fazer uma outra sobre o que poderiam ser os dois?
...

«e gosta... muito... de finais felizes»

O que é um final feliz? Ainda existem? São credíveis?

Excelsior disse...

Ni...

...às tuas duas perguntas, posso (tentar) responder apenas numa resposta...

...Nós somos o que Criamos, o que queremos, o que fazemos. Uma citação de alguém que muito me/nos é, diz algo como: "Sejamos ousados e criativos. Em cada momento tudo se reinicia. O amanhã começa todos os dias. O Futuro é uma história nunca acabada."

E eu (como eterno inconformado que sempre disse ser) acredito muito nisto! Se (sempre) em Verdade, se no pleno do nosso saber de nós próprios, nós refazemos a nossa Linha de Tempo/Vida, sempre que quisermos! Refazendo-nos! CRIANDO-NOS...

...

...O "final", que nada mais que é um Começo de uma História nova, limpa de marés negras, de erros passados, de ciclos viciados, de imaturidades (há tanto) ultrapassadas, é feliz, se deixarmos que o seja. Se aceitarmos acreditar naquilo que é... óbvio, aos nossos olhos, tanto quanto o é aos olhos do outro.

Mas, se quisermos escolher ficar onde sempre estivemos... onde, quiçá, já nos sentimos quase que "doentiamente confortáveis", no conhecido da tristeza e desesperança... é aí que ficaremos.

...Somos nós, os escritores das personagens da nossa vida.

E a Verdade é o Portal para as folhas de um novo livro em branco, escrito a tinta de Azul, Dourado e Rosa... numa Espiral desenhada em risos e olhares de crianças deliciadas com a descoberta de si mesmos, no outro... e.terna.mente...

...

(...Eu sei, novo plágio...) 0:)

Fernando disse...

NI

Ela poderá dizer-lhe tudo isso e muito mais, mas ele terá sempre uma palavra para ela. E saberá com toda a certeza, ouvir o som do desfilar do seu coração...
As asas voltam, mesmo depois de ela ter passado o portal, porque ele sabe fazer magia com a sua linguagem. A linguagem pura do Amor celestial...A Liberdade.

***

Cleopatra disse...

Desta vez nem me atrevo!

Cleopatra disse...

Ela tocou as palavras.
Muitas vezes as abraçara.
Uma vez ele pedira-lhe: - "Escreve para mim."
E ela tocara as palavras e escrevera.
Outras vezes ele pedira-lhe:- "Escreve-me um poema".
E ela olhara as palavras que lhe colocara no peito, que dos seus lábios tinham descido pelo pescoço dele ou tinham pousado nos seus olhos ....
Olhara as palavras que lhe oferecera e vira-lhas tatuadas na pele .
E então pensara... "eu abracei as palvras e dei-lhas como filhas, nascidas da minha alma e do meu sentir e ele não as vê , nem as ouve, nem as sente a queimarem-no em vida...

Ela abraçara as palavras e ofertara-lhas em noite de lua cheia, em tarde de mar calmo e sol quente,em hora de silencio, hora de olhares e partilhas,..hora suspensa, a nona hora... a hora em que as palavras nascem depois de abraçadas e soltas pela alma....
E ele não entendia o tempo... a hora certa de abraçar as palavras...

Olhou-o nos olhos e mergulhou na alma dele. Lá dentro sussurou-lhe:

- É a nona hora. Eu abracei as palavras e elas são rios quentes com barcos vermelhos. Circulam-te no sangue, estão-te tatuadas nos poros,...fecha os olhos e vê-me...

Tenho olhos escuros e profundos e os meus cabelos são de seda com reflexos de entardecer, os meus dedos soltam sonhos e contam-te histórias de encantar e os meus lábios fazem de ti criança outra vez....Não te ouves rir quando te conto histórias de encantar?

É nona hora...estende as mãos e abraça os barcos vermelhos que navegam no rio.Bebe as palavras e mata essa sede de ser feliz. Depois, depois pronuncia o meu nome....
Ou então não o faças nunca mais porque é a nona hora.A hora de abraçares as palavras.

Pecadormeconfesso disse...

A Cleo empurrou-me para aqui, onde vim encontrar novos barcos vermelhos.
Onde andas menina de pérola verdadeira? Que fizeste aos barcos vermelhos? Ao que parece a Cleopatra envenenou alguém com eles. E tu? Fugiste neles?
Ai coitados dos homens que se afundam em barcos vermelhos.
Bj

☆Fanny☆ disse...

Ni*...tu embriagas-me de inspiração e o mote foi:

"Ela abraçou as palavras e a seguir despiu-as, letra a letra..." respirou o aroma que se desprendia de cada uma...como se de uma flor se tratasse... desfolhou cada pétala que se soltava daquela carta perfumada...e suspirava como se o eco da sua alma voasse até ao coração do seu amor....
Arrumou-as uma a uma de novo. Soletrou sílaba a sílaba...todas pronunciavam a palavra AMOR... agasalhou-as meigamente no peito e sorriu uma lágrima de saudade...

...
...


Sorrio-te Ni*...

E o texto continua, postarei noutro dia...

Logo que li o teu texto, escrevi o meu. Os dedos não paravam de suspirar. É incrível a força que as tuas palavras têm. Delas brotam feitiços que nos circundam e nos moldam por dentro.

Entretanto, hoje coloquei no meu blog uma continuação do outro texto "Ela/Ele gostaria de lhe dizer..."
Confesso que desta vez inspirei-me no Excelsior. Nada que se compare com a sua escrita que se enraíza maravilhosamente nos nossos sentidos...mas nasceu como o meu coração ditou.

Já poderia tê-lo postado há mais tempo, mas sucederam mil problemas comigo esta semana. Se te contar nem acreditas...

Um abraço de estrelinhas reluzentes*

Fanny

Cleopatra disse...

OLha, é assim: Eu, realmente, não sei o que aconteceu por aqui mas, não me está a agradar nada a demora.
Não estou a achar graça nenhuma. Acho de um "desplante enorme" não apareceres e dizeres ao pessoal que aqui vem religiosamente espreitar, cheio de fé, a salivar pela tua escrita:- " Meninos estou bem só que não me apetece ligar-vos nehuma. BYE!"

Ao menos isto! Acho que estou a ficar zangada.
Acho que estou a ficar amuada.
Acho que este comentário não será muito próprio para publicar
Acho que... não tenho de achar nada.


















AH!!! E estou farta das teclas do piano que nunca mais se gastam!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Ni disse...

CLEÓPATRA:

Confesso que não entendi o teu comentário...

Este blog é um recanto de que gosto muito e onde me derramo em palavras de afecto transparentes. Mas a vida exige muito de mim... quer a nível profissional, quer pessoal... e nem sempre me mima... e é-me impraticável estar diariamente a actualizar o blog.

Tenho, porém, o máximo respeito por cada pessoa que aqui passa... porque é o meu modo de ser e estar na vida.
............

Rui Gonçalves disse...

Adoro este texto, algo surreal mas com um aroma de cor branca na escrita.
Belo.