segunda-feira, janeiro 29, 2007

A LUZ DOS DIAS FELIZES - (300º 'post') -





'O que mais deixei para trás, em cada viagem que fiz, foram os amigos que não voltei a ver. (...)

Disse-me uma vez, numa dessas constrangentes despedidas, um amigo sarahui: - Os que não morrem, encontram-se.


Mas aprendi que não era verdade, infelizmente. Quando muito, poderia talvez acreditar que os que se encontraram nunca mais morrem na nossa memória.

Mesmo que apareçam tão-somente assim, esporadicamente, do fundo de uma gaveta, onde vive arquivada, a luz dos dias felizes.'

*
Miguel Sousa Tavares, in Sul Viagens




domingo, janeiro 28, 2007

«MATAR A SEDE COM ÁGUA SALGADA...»




'Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas às urgentes
Perguntas que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer enquanto
O nosso amor durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...

Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada...'

Miguel Torga

tempUS



MEnina FELINA... em pensamentos soltos... sem tempo.

Ni*

Às vezes pouso a cabeça em certas memórias...
E suspiro...
Deito o olhar para uma nuvem que quer passar...

e não o retiro!

O ideal seria não se dar pela passagem do tempo.
Seria viver dentro dele, como sua partícula natural,

e não temporariamente...
Não me sentir assim...
Como uma estrangeira em visita ao país da eternidade,

cuja Língua ignoro.
Será que sabe a sal ou será doce o que não sei?
Se é espelho de mim, estará à margem da esperada lei...
...

No meu pulso fino, um relógio impõe-me esse tempo.
Quando o homem inventou o relógio estava, no fundo,

a tentar minimizar os estragos
por se ter esquecido de trazer o tempo no coração...
Apenas um fugaz brilho no olhar, desses tempos de Verão.

Como seria perfeito se tratasse a eternidade por 'tu',

ao ponto de me fundir com ela.
Mais felino do que eu, esse tempo, que me foge!
E, no entanto, ele nunca deixa de estar 'lá'.
E eu... 'cá'!

E sorrio, sempre que me cruzo com o horizonte...
Atemporal ponte...
Porque ele me mostra que para a eternidade é indiferente

que esteja no presente, no passado ou no futuro.
Porque acima de tudo 'SOU'.
Não lhe interessa se fico ou se vou!

...

Tempo, verdade, realidade, mundos, segredos...
E sorrio... sorrio...


É que às vezes...
os gatos deixam-se longamente afagar,
como se os deuses fizessem uma cedência ao mundo existente do lado de cá da realidade...
Onde o odor no ar é de algo com a cor da saudade...

...

Aflora-me à memória a canção 'quero o meu primeiro beijo...'

Outro, mais um, desejo...
Um desejo que se perdeu no tempo pode voltar mais tarde.
Ele é mais forte e mais teimoso do que quem o perdeu...

Sorrio de novo...
Algo mais felino e mais persistente do que eu!

'muito mais é o que nos une, que aquilo que nos separa'

E, de repente, a lucidez de que as ideias não dependem de mim.
Eu é que dependo delas!
E agora... tenho de aceitar este novo mistério na minha vida.
Ainda que não vislumbre o começo, quanto mais a saída!

(...)

...Pois é...
uma boa companhia faz pensar, por algum tempo, que não se nasceu só...
Que é ficção a nossa origem no pó.
Que seja, mas será pó de querer... podes crer!
Porque vou decifrar o enigma, e contigo sair do labirinto...

'Haverá gente informada se é amor isto que eu sinto...'



Nina

Lisboa, ao longo do tempo...

(Para ler a ouvir Rui Veloso, 'Primeiro Beijo'... tal como foi escrito)


terça-feira, janeiro 23, 2007

ESSE TERRITÓRIO DE ESPANTO...




Quanto mais próximo se fica do amor, mais necessário se torna conhecer quem nos mostrou esse território de espanto.

O deslumbramento, a luz intensa e fulminante gerada pela atracção de almas e de corpos (fases por esta ordem), embotam ou retardam a chegada do lado negro de cada um a essa nova dimensão recém criada.
A contribuição "generosa" de vícios e de marcas, de insuficiências e de excessos é condição necessária (mas obviamente não suficiente - uma relação amorosa não é uma terapia, embora possa e deva ser regeneradora) ao evoluir da paixão para uma relação amorosa de sentido pleno e total, de encontro e de partilha.


A entrega não é apenas do brilho, mas das pequenas/grandes trevas que nos habitam.

Alcançar o elo seguinte da espiral pode então ser duro, difícil de enfrentar, mas é útil e tão imprescindível como qualquer dor de crescimento - o esqueleto só atingirá a sua fase adulta por meio de saltos, e, numa relação a dois, essas mudanças não representam apenas alterações quantitativas, mas também qualitativas: (re)qualificam a relação, dão a maior contribuição possível para a pertença - mostram cada um com o seu wild side, o tal 'lado lunar' eufemístico, e expõem-no ao olhar do outro.

Se esse olhar mantiver a luz, era mesmo amor.




quinta-feira, janeiro 18, 2007

O CAMINHO DA CERTEZA




Tinha aprendido que o caminho da certeza se fazia sem complacência nem quebra de vontade. Só lhe faltava a noção exacta da medida do amor, para lá das roupagens espúrias, das distâncias impostas, da intransponível barreira da reserva cultivada a frio, e por tudo isso ainda tinha pronto o cavalo do medo para fugir sem demora, a entrega total negada como condição de sobrevivência. Ensaiou a fuga uma última vez, a propósito de (quase) nada, mas o caminho desfez-se ante os seus olhos espantados, toldados pelas vagas que lavavam tanto passado inútil. Olhando na noite impossível para um ponto distante algures a norte, ainda viu derreter-se o muro que a isolava de si, dissipado em nuvem e logo tornado verde esmeralda, vértice da lua cheia na maré de todas as madrugadas.


- Fragmentos de mim -
Ni*

RENÚNCIAS



Esta imagem , desde que há uns anos me chegou por email, nunca me deixa indiferente, sempre que a revisito.

...

Já escrevi textos poéticos (?) como resultado desse impacto... como se uma memória se activasse.

Asas que se desejam, que se transportam, que se aspiram ou se protegem.

E sempre... a liberdade de escolher: de se libertar delas, ou de as quebrar, ou de delas prescindir, ou a elas renunciar.

Ser mulher, apenas. Quando o 'apenas' nunca o é.

Do pedestal, da fuga, das nuvens de fogo no horizonte próximo, das asas quebradas, exala o odor dos mitos, das trocas, das renúncias de um bem por outro...

...que se acreditou maior?!

...

terça-feira, janeiro 16, 2007

CONSELHO




Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.

Eugénio de Andrade
*
...

segunda-feira, janeiro 15, 2007

AB IMO CORDE


(*AB IMO CORDE = do fundo do coração)

*


« - Vó, o teu cabelo ficou branquinho, mas os teus olhos continuam azuis, azuis, azuis!
- Os olhos mudam de cor de acordo com o que sentimos, Ni.
- Os teus estão sempre azuis, vó. Sentes sempre o céu, não é?

(Silêncio e sorriso, ao partilhar uma tarde em pleno campo, perto de Lamego)

- Vó, solta o cabelo.
- Aqui, na rua?
- Claro, vó! Dentro de casa não há vento. E eu gostava de ver andorinhas de asas brancas a sairem do teu cabelo.
- Ni... promete-me que nunca te esqueces da magia da vida.
- Da magia? (de olhos muito abertos e voz sussurrada, como se um segredo me estivesse a ser revelado)
- Se algum dia te sentires só, sem saberes que caminho escolher, sem entenderes as pessoas e as palavras, os gestos... SOLTA. Deixa ir a mágoa. Como os cabelos... para que surjam andorinhas de asas brancas na tua vida...»

...

Talvez seja por isso que hoje caminho pela vida de cabelo solto, embora nem sempre os pássaros da alegria me escolham para fazer os seus ninhos.
...



...

........................^^
Ni*

sexta-feira, janeiro 12, 2007

NÃO GOSTO DE MUROS!



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SEGREDOS





...abrir a porta ao inesperado. Tomar chocolate quente com a surpresa do destino. Ousar amar(mo-nos). Expressar a luz. Fluir na música. Entoar um canto único, porque todos somos irrepetíveis. Exprimir a valentia dos puros de alma. Sorrir. E dizer-te : «-Até já»... Ainda que não me ouças. E sorrir-te, de novo. Ainda que não o saibas. E desenhar-te raminhos de palavras. Ainda que não me leias. E soprar-te alegria. Ainda que não me respondas...
*
Ni
*
Conta-me um segredo...

quinta-feira, janeiro 11, 2007

IDEALIZAR



«... e um dia, como repentina luz da manhã que escolhe o brilho dos nossos olhos para mergulhar, percebemos que idealizar é dizer adeus sem dar por isso. »
...
Ni*

quarta-feira, janeiro 10, 2007

NÃO SE ESCOLHE...


- Para todas as mulheres que ousam acreditar no Amor, após o desamor-


(...)

Ela tinha uns olhos brilhantes, profundos como a noite. O cabelo, da cor do das ninfas das águas calmas, embaladas por amores nunca resgatados.
Os pensamentos povoados de sonhos.
O desejo, incandescente de voar, de rasgar horizontes cada vez mais altos, cada vez mais fundos.
Ela, como Ícaro, era dotada de asas... mas na alma.
E, como Ícaro, experimentou a dor de chegar demasiado perto do sol.

Viveria tudo outra vez!


Ela ousava... seguia o instinto de ousar usar as leis do Universo e da vida.


Descobriu-se outra, nos braços de um grande e inconfessável amor... depois 'dele'...

E nada voltou a ser como era.

Àqueles que a amaram, escapou-se-lhes por entre os dedos como poeira dourada, numa rebeldia quase indefinível, que doía e encantava.
A si própria, concedeu-se o privilégio de ousar viver intensamente, de dar voz, corpo e vida aos seus desejos mais secretos.

E soube não oferecer resistência ao invasor impiedoso, doce e mais que tudo, desejado, recebendo-o em todo o seu ser com a infinita coragem e sabedoria dos que se sabem deixar amar.

É que não se decide quando, nem se escolhe quem se ama!

Ama-se.

(...)


segunda-feira, janeiro 08, 2007

...


A última folha,
aquela,
onde estavam adormecidos
todos os poemas,
caiu.
É melhor assim.
Os meus olhos,
agora de ti vazios,
não mais te lerão em mim.
...
Só o mar ficou.
E o vento, espantado,
calou o branco lamento e amainou.
...
Só o sal ficou.
Ni

sábado, janeiro 06, 2007

DESCE E VEM SUBSTITUIR O MUNDO...





«Por degraus de sonhos e cansaços meus desce da tua irrealidade, desce e vem substituir o mundo.»
*
Fernando Pessoa/Bernardo Soares, in 'Livro do Desassossego'

terça-feira, janeiro 02, 2007

NUNCA DEIXAREI O PERFUME DO SAL



Há silêncios que deslizam

das velas das luas marinheiras.

E oferecem, aos meus olhos de (a)mar,

a rota dos faróis

com ninhos de voos para Sul.

E mapas de ilhas

com carícias de ventos quentes

e abraços de água doce...

...

Agradeço.

Mas nunca deixarei o perfume do sal.

Escorreu-me dos olhos para as veias.

...

Nina

1/1/2007