ZAHIR
«Segundo a tradição islâmica, o Zahir é algo ou alguém que, uma vez tocado ou visto, nunca é esquecido - e vai ocupando o nosso pensamento até nos levar à loucura...»
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«O meu Zahir tem um nome, e o seu nome é Esther»
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Assim se nos apresenta o narrador deste romance de Paulo Coelho.
O Zahir é a sua esposa, Esther, com quem é casado há mais de dez anos. Tudo parecia bem entre eles, até ao dia em que ela desaparece sem deixar vestígios. A polícia coloca várias hipóteses:rapto, assassínio e envolvimento com terroristas – ela foi correspondente de guerra no Médio Oriente – sem chegar a uma conclusão.
Mas ele, o marido, sabe a resposta: ela abandonara-o simplesmente sem se despedir, sem dizer para onde ia nem por que o fazia . Esther saiu da sua vida e acabou por ocupar a sua mente pois, diante de tantas perguntas sem respostas, para ele tornou-se impossível parar de pensar nela. Por que ela desistiu? Onde está agora? Com quem está? As interrogações não o deixam encontrar a paz e acabam por guiá-lo numa viagem em busca da esposa desaparecida e de si mesmo.
"O Zahír" é uma história de grande subtileza e coragem e uma reflexão cuidada acerca do verdadeiro preço dos compromissos que assumimos na e com a vida.
Recomendo a leitura deste livro. Sei que Paulo Coelho é um escritor que provoca reacções extremas: idolatra-se ou abomina-se (por vezes sem se conhecer a obra, apenas porque a elite intelectual decidiu denomina-lo superficial, comercial).
Há livros de Paulo Coelho que valem por uma frase, uma só. Como uma espada que nos trespassa, nos incomoda, nos agita, nos obriga a reagir, a SER.
O Zahir é diferente. Intenso. Todo. Total.
Talvez porque, mesmo sem o assumir, é a sua verdade de «vida vivida».
Há passagens que reli inúmeras vezes.
E de cada vez me acrescentava algo.
Deixo um excerto. Se depois de o lerem ficarem pacificamente indiferentes... esqueçam este post.
« - Digamos, então, que preciso de estar sozinha.
(...)
- O que é que está mal na tua vida?
- Justamente isso. Tenho tudo, mas estou infeliz. Não sou a única, no decorrer destes anos convivi ou entrevistei todo o tipo de pessoas: ricas, pobres, poderosas, acomodadas. Em todos os olhos que se cruzaram com os meus li uma amargura infinita. Uma tristeza que nem sempre era aceite, mas que estava ali, independentemente do que me diziam. Estás a ouvir?
- Estou a ouvir. Estou a pensar. Na tua opinião, ninguém é feliz?
- Algumas pessoas parecem felizes: simplesmente não pensam nisso. Outras fazem planos: vou ter um marido, uma casa, dois filhos, uma casa de campo. Enquanto estão ocupadas com isso, são como touros em busca do toureiro: reagem instintivamente, seguem em frente sem saberem onde está o alvo. Conseguem o seu carro, às vezes até conseguem o seu Ferrari, acham que o sentido da vida está ali, e nunca fazem a pergunta. Mas, apesar de tudo, os olhos mostram uma tristeza que nem elas mesmas sabem que carregam na alma. És feliz?
- Não sei.
- Não sei, são todos infelizes. Sei que estão sempre ocupados: fazem horas extra no trabalho, cuidam dos filhos, do marido, da carreira, do diploma, do que fazer amanhã, do que falta comprar, do que é preciso ter para não se sentir inferior, etc. Enfim, poucas pessoas me disseram : "Sou infeliz". A maioria diz-me: "Estou óptimo, consegui tudo o que desejava." Então pergunto: "O que o faz feliz?" Resposta: "Tenho tudo o que uma pessoa pode sonhar - família, casa, trabalho, saúde.". Pergunto outra vez: "Já parou para pensar se isso é tudo na vida?" Resposta: "Sim, isso é tudo." Insisto: " Então o sentido da vida é trabalho, família, filhos que vão crescer e deixá-lo, mulher ou marido que se transformarão mais em amigos do que em verdadeiros apaixonados. E o trabalho vai terminar um dia. O que fará quando isso acontecer?" Resposta: não há resposta. Mudam de assunto. Na verdade, respondem:" Quando os meus filhos crescerem, quando o meu marido - ou a minha mulher - for mais meu amigo do que um amante apaixonado, quando eu me reformar, terei tempo livre para fazer o que eu sempre sonhei: viajar." Pergunta:" Mas não disse que era feliz agora? Não está a fazer o que sempre sonhou?" Aí sim, dizem que estão muito ocupados e mudam de assunto.
Se eu insisto, acabam sempre por descobrir que estava a faltar alguma coisa.»
Paulo Coelho, in 'O ZAHIR'
7 comentários:
Talvez a resposta fosse simples, fruto de algo lindo, e sentimentos apaixonados, quem sabe... como aconteceu com o Zahir da Carmen, o irmão do Mixtu... :o)
Mas isto já são estórias lindas a mais, numa noite só!! :o)
Deixo os vermelhinho para depois, para ler com muuuuuuuita calma, que a coisa promete... e agora tenho de ir dar comer à malta, que vão dormir às 23h em ponto.....ai... já...!??! OPS!
BJsssssssssssss
vou seguir o teu conselho,o livro parece-me interessante.
bjs
Ni*, Linda!
Está a faltar sempre qualquer coisa!
Que in completos, somos!
Que in felizes, alguns são! Outros pensar ser...
Zahir... Paulo Coelho...superficial... comercial?!
Elite intelectual...
~*Um beijo*~
ATé que enfim que alguém me compreende...
É impossivel ficar indiferente a este livro. É impossivel não o compreender. É impossivel dizer-te tantas coisas e poucas acertadas, como as tuas...li "O Zahir" com o mesmos olhos.
Beijinhos grandes e obrigada pelas palavras
Sara, Taxi Driver, Rosmaninho, Joana:
A vocês, amigos, que aqui me deixam o vosso carinho em forma de palavra partilhada, o meu obrigada.
Joana... a passagem que aqui coloquei nem é a mais ...MAIS...
O livro é quase todo um relato sagrado da alma humana face a relacionamentos...
«É melhor ficar com fome do que ficar sozinho. Porque quando se está sozinho - e eu não falo da solidão que escolhemos, mas da que somos obrigados a aceitar - é como se já não se fizesse parte da raça humana. (...)»
in 'O ZAHIR'
Só quem sente, sabe. Entende. E Paulo Coelho dificilmente se superará depois deste livro, arrancado das entranhas e dedicado à mulher.
Até hoje só um livro dele me tinha tocado assim profundamente: 'Wicca'. Porque me revi e me entendi em certos momentos da minha vida.
O Zahir... é um livro de maturidade. Foi-me oferecido, assim que saiu, pelo homem que agora se está a divorciar de mim.
Não esqueço o modo como mo deu.
Gostaria que ele o lesse, mas sempre se recusou a ler Paulo Coelho.
...
«Já conheceste muito bem a minha alma; mas há anos que não conversas com ela, não sabes o quanto ela mudou, o quanto ela está a pedir de-ses-pe-ra-da-men-te para que a oiças. Mesmo que fale de assuntos banais (...)»
in 'O ZAHIR'
Abraço de vento, hoje com arrepio...
Ni*
arrepio acutilante diria mesmo... nao sei d literatura (nem da vida) aquilo q gostava de saber. sei o q senti e o q sinto sem saber os pqs. fui levado a acreditar que a felicidade é proporcional à inocência (já o dizia caeiro) e esta por sua vez (e infelizmente) inversamente proporcional à ideia de vitória (neste mundo tão selvagem com tudo o q d depreciativo isso possa ter)... agora quero cada vez mais acreditar que a felicidade não é a meta q ainda desconheço e q tentamos alcançar mas sim o caminho que percorremos até lá...q tem q ser alimentada diariamente e eu ainda n encontrei melhor maneira q tentar aos poucos transformar este egoísmo natural e instintivo em altruísmo (e o caminho é longo m doutra forma seria espiritualmente curto demais...) e como cita a "amiga" joana: "Para ser feliz, é necessário pensar na felicidade de um outro"
Bachelard, Gaston.
quanto a paulo coelho (q aprecio) conheço muito menos q o desejado (m na falta de tempo tento dar prioridade aos nossos patrícios literatas) m prometo q serão as próximas páginas a acarinhar... e tenho por isso q lhe agradecer professora Ni e deixar a minha singela homenagem à coragem d ter abraçado tão nobre ofício... obrigado pela inspiração (talvez um dia tenha o prazer de aprender consigo coelho e tantos outros... talvez Maria Castro... talvez). obrigado pela coragem
bj.
ps: nunca pensei estarem num mundo tão virtual impessoal e (achava eu) supérfluo as mais belas almas q cruzaram a minha vida. almas q reconheço e sinto conhecer. verdadeiras pérolas do metafísico.... prometo voltar.
tambem o li e ninguem fica indiferente
cumprimentos
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