segunda-feira, agosto 02, 2010

PRESENÇA... AUSÊNCIA...


PRESENÇA

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos…
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo…
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida…
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato…
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.


Mário Quintana

*

AUSÊNCIA

Preciso que a memória te reinvente em linhas de água,
que resgate o teu beijo mordido, rio ávido,
e o cole suavemente na minha boca,
onde silêncios e murmúrios agitam o vento das horas brancas.

Preciso que a tua presença desenhe no ar jasmins
e me lamba as mãos com sabor a rosmaninho,
onde guardei o teu nome à espera das marés com luas quentes.

E quando surgires nos meus olhos, iluminados pela tua voz
e pelas cerejeiras em cio, deixa-me beber todos os que és.

E fica, assim, em mim...


Ni

MEMÓRIAS EM VOO LIVRE...


Memórias em voo livre

(...)



Pousei as palavras com sabor a outrora.
Olho-as...
Conheço-lhes o travo nesta meia memória a meio da vida.
Doces e salgadas, encontro e partida.
Sigo o gesto que a minha mão traça entre o que passou e o agora...

E sem o tempo ver,
roubo o instante entre o nunca e o sempre.
Onde não são necessárias despedidas, escolher...
Onde posso apenas, livremente, SER.
Precioso fio, guardado na luz do espelho,
que voou da caixa da memória.
Entre tu e eu, ainda e persistente,
a interminável história.

Conto os passos ao ritmo deste coração descompassado,
que me pede para não escolher o que já está escolhido...
Nas memórias reflectido, de um presente passado.
...

Os pássaros, pousados,
suspensos na eternidade,
têm a calma da saudade...

Não te esqueci, é verdade!

E se comigo sempre amanheces, diz-me...
De que outros mundos me conheces?

...
Ni*