domingo, março 05, 2006

ESTA PALAVRA SAUDADE...


(...)

Nina

Nas palavras há silêncios...
que só o coração consegue ouvir.
Impossível querer-lhe mentir.

Tal como a sombra da Lua,
redonda, como o teu sorriso,
quando para ti dançava, nua.

Murmúrio, pauta de sinfonia inacabada...
que contém os segredos dos olhares que lhe suplicam:
- Dá-me a alegria, do abraço o calor...
o seu perdido sabor...
Tira da minha alma o nada.
- No nada que nos separa agora
cabe lá tudo o que quisermos -

Palavras...
que nos fazem vislumbrar o infinito...
Ir em solto grito.
ter memórias de 'casa'...
Guardei-as no peito várias vidas, sucessivas...
libertei-as quando te encontrei...
E mesmo no silêncio a ti me dei.
em cada palavra uma asa...

E hoje,
sentada entre o espaço da saudade
e o tempo da dor...
há uma que voltou em voo lento, sozinha
para o profundo mar do meu olhar...
Mas veio na forma singular, amor.




Ni*

... Então, inventámos uma só palavra que define com doçura e encanto a improbabilidade universal de dois corpos se voltarem a encontrar com a mesma intensidade da Luz - a Saudade...

Somos apenas almas que gerem com maior ou menor perícia essa saudade doída. A ausência é uma saudade arrefecida, uma saudade que nos faz ter tempo para recuar e olhar para dentro.

Dizem que o tempo cura. É mentira. A Saudade não. Nada a cura. Não sobra tempo para nada, porque todo o tempo do mundo pertence-lhe.

E eu olho esse tempo da Saudade e, devagarinho, encosto-me à memória das coisas boas, como a luz do teu olhar, sempre que alongávamos a vista pelas ondas altas de espuma a rebentarem do outro lado da janela.

E é no tempo que roubo à saudade que digo que gosto de ti. Assim, com toda a simplicidade. Ainda que não me ouças...

32 comentários:

martim de gouveia e sousa disse...

é, ni, a saudade depura, quando dentro do melhor silêncio. bjo.

mixtu disse...

Minha Cara Maria:
Quando leio algo do seu colega escritor, de graça (desconheço se de registo) Paulo Coelho, vou à procura de uma ideia, um parágrafo que pauta a nossa vida ou desinquieta as nossas consciênciasou que me faça pensar, a obra desse autor vale (não) pelos livros mas por “pequenas” cosas que eles contêm, isto foi-me “ensinado” por uma amiga depois de lhe ter dito que não gostava do dito, mero colador de frases feitas, embora só o lia nas estações dos correios enquanto aguardava a vez, cosa que não me é permitido fazer agora pois os livros vêm embalados mas acabo por não perder pois adoro os livros do Astérix,
qualquer dia compro um livro aos CTT para compensar esta minha leitura diária de vários anos,

Num livro de Paulo Coelho existe “una pérola” (a língua castellana têm esta expressão que infelizmente o nosso idioma não tem),
neste seu poema vejo várias,

“Nas palavras há silêncios...
que só o coração consegue ouvir”

“Tira da minha alma o nada.
- No nada que nos separa agora”

“… há uma que voltou em voo lento, sozinha
para o profundo mar do meu olhar...
Mas veio na forma singular, amor.”

“Destaco” estes seus versos mas, todo o seu poema é destacável,

Depois a Maria, em texto corrido (aproveitou as linhas até ao final), será poesia, (questiono-me), disserta sobre a saudade, e como o faz bem… poeticamente saudade foi “bem” definida, “improbabilidade universal de dois corpos se voltarem a encontrar com a mesma intensidade da Luz”,
Em boa hora fomos buscar a palavra saudade a outra língua e a utilizámos em toda a sua essência em alto mar, ou na sua ”…a vista pelas ondas altas de espuma a rebentarem do outro lado da janela”,

O seu conceito de ausência também me fez pensar, e isso é bom, aliás, as suas palavras fazem pensar, cosa rara (na minha pessoa e nos demais) nos dias que correm,

Despeço-me com muita consideração, já que me fez pensar,

aqui-há-gato disse...

Silêncio e saudade...
Palavras que nos tocam os sentidos, palavras que nos levam a memória, perdida naquilo que somos, ou no que gostavamos de ser...

Sabes que vou voltar sempre:)
O beijo

Fragmentos Betty Martins disse...

Querida Ni

Lindo... "expressão muito pouco" para definir o teu poema.

Oh!
o tentar
em todas as aves
tem lugar
escuta... da canção a breve escada
e ao alto
inda nada

senão
a vontade
tão grande já
e o coração maior
no espaço cresce
com infinito ardor
de saudade...

luz calada
sentires
do sagrado da saudade
divagar pelos dias

com mil raízes fundo

mergulhar vida dentro - e
amadurecido em dor
este sentimento
ir longe pra além da vida
longe, pra além do tempo

e gritar
todas as palavras
que não consegues ouvir.

Beijinhos

Amaral disse...

Oi, Ni. Nas palavras há silêncios. Nos silêncios também… há palavras! Palavras que não se ouvem, mas que se vão sentindo…
Há algum tempo que não aparecias no meu cantinho… e eu, não me atrevia a comentar… com palavras… mas com silêncio. Esse, de que falas! Deixaste escrito: "Nunca temos tempo para os amigos…"
Quero que estejas bem!... Embora não possa estar tudo como desejaríamos… Há um resto que fica (absorto na saudade, na solidão, na incapacidade para aceitar…) que nos coloca à prova, nas mais diversas formas de estar. Como dizia a Kalinka: "só quem passa pelas coisas..." Claro que ela tem razão! Não bastam as palavras, vindas de longe, não se sabe de quem, a quererem impôr a sua verdade, remédio para todas as curas. "A Vida é injusta"- diz a Nina do outro blog. Será?... Não seremos nós, NÓS, que estamos a "ser injustos" com a Vida?...
Desculpa se nalgum comentário escrevi algo mais despropositado que tivesse magoado alguma coisa em ti.
Desejo que te aconteça o melhor do mundo!

Angie disse...

Oi minha querida muito amada...
Sua emoção me contagiou, e estou aqui em prantos , e quase não enxergando o teclado. Mas, isso vindo de vc, é normal, pois é a sensibilidade em pessoa. Eu, pq sou chorona mesmo. Mas, quero admitir que temos muita afinidade, pois já disse ao José Carlos que vc escreve o que eu morro de vontade de escrever mas Deus não meu deu esse dom. Mas, peço a Ele que a abençoe muito, muito mesmo, dando saúde, paz, harmonia, prosperidade, para que escreva muito pra nos emocionar, e nos deixar felizes, (chorando de felicidade, de emoção!)
Vc é linda, e eu te adoro! Sou sua eterna fã.
Beijinhos Angie

Anónimo disse...

Saudade, diz muito... é no minimo uma lembrança de um bem que estamos privados...

Um abraço

Nelson Ferreira

Mac Adame disse...

Cá está: primeiro poesia, que ocupa parte da linha; depois prosa, que a ocupa toda. Comum a ambas é a mensagem. É a definição de um tolo, mas sei que nós tolos também fazemos falta. Pelo menos a quem tem sentido de humor. Estás nesse caso. Continua, Ni(na). Assinado: Mac(aco). Ora veja-se como temos nomes que são prosa e poesia ao mesmo tempo (isto foste tu que tiveste a perspicácia de o descobrir).

Joana disse...

Querida Ni,

Percorro cada palavra tua ávida do que vou encontrar.
Sabes bem que o que escreves vem do fundo, mas talvez não saibas que para quem lê, o mundo pára, serpenteia e sorri!

...

as tuas palavras são o meu conforto!

beijinho grande e uma boa semana!

Rosmaninho disse...

Ni*, Linda!

Roubar tempo à Saudade torna a Saudade bem menor.

E... se é nesse tempo que te encostas à memória de coisas boas... então Ni... rouba muito, muito tempo à Saudade.

Será assim, muito de mansinho, a melhor forma de a ires tratando e... pode ser que, com menos tempo, se vá curando...

~*Um beijo*~

Poemas e Cotidiano disse...

Minha querida Nininha:
Que coisa mais MARAVILHOSA essa poesia com esse texto sobre saudade....Nossa minha linda, voce arrasou em sensibilidade...em ternura, em meiguice.. Alias, tem algo em voce muito, muito meigo...voce escreve assim como que "pedindo licenca"... extremamente linda e feminina.
Que poesia maravilhosa Nininha! Li e fiquei pensando sobre ela, e suas palavras...lindo, lindo!
Mas o que realmente me fez sentir um impacto foram seus versos finais:
E hoje,
sentada entre o espaço da saudade
e o tempo da dor...
há uma que voltou em voo lento, sozinha
para o profundo mar do meu olhar...
Mas veio na forma singular, amor.

Fiquei a pensar entre o espaco da saudade e o tempo da dor....
Que linda inspiracao, minha irma!
Beijos com amor, da
MARY

APIUR disse...

Olá Ni,
Com muita dificuldade logrei, finalmente, (...), entrar no teu espaço.
Agradeço as muito belas palavras deixadas no meu blog. Queria fazê-lo directamente, dialogando, mas não tenho o teu e-mail...
Volto a perder-me neste teu poema.
Falar de Amor é sempre difícil, (o Amor deve ser vivido, sentido, sofrido quando grita a paixão), mas também gosta de ser falado.
E volto a perder-me nas notas difusas da memória que o futuro lerá em voz alta.
Volto a soletrar os sentidos nas veias das palavras que me encantam, num movimento sem par, em ritmos de saudade, alegria, saudade...que esta voz teima sempre em sobrepor-se ao que há de tão cativante no Amor.
Porque será que há silêncios nas palavras neste diálogo de vontades climatizadas numa onda comum.
Que desencadeia violentas ternuras e gélidos silêncios de entendimentos perdidos ou reencontrados afectos?
Mas ainda bem que o Amor foi inventado, é reinventado quando nos deixam ser seres humanos plenos, é escrito nas páginas da nossa pele, nas polifonias de cada gesto.
Sem Amor, sentamo-nos no "tableau" e aguardamos a entrada em cena de uma contraparte que faltou aos (nossos) ensaios da vida.
Sem Amor, seria um sorriso vazio num jardim sem flores.
O Amor deve voar, (criando o seu espaço dinâmico), até ao seu ninho, como um papagaio conduzido pelas mãos de uma criança.
Deve ser o desejo incontido da pureza que só o amanhecer esconde ao encontro imperfeito da Lua com o Sol na nossa alma diletante.
Bjs
Com a amizade,
Apiur
(fpaiva@mail.telepac.pt)

Anónimo disse...

Palavras que exaltam um sentir profundo...belíssima a tua escrita ... escreves com alma :)

Hata_ mãe - até que a minha morte nos separe Hugo ! disse...

Obrigada pelas tuas palavras, Ni...eu queria dizer um monte de palavras limitando-me a elogiá-lo.
Honestamente não vim cá para isso...há momentos em que penso que não vou aguentar...e são muitos, que tenho que os amordaçar na alma para que ninguem perceba, o que provavelmente vai acontecer...
Queria continuar, mas...está dificil,
Obrigada,
Um abraço

Hata_ mãe - até que a minha morte nos separe Hugo ! disse...

*elogiá-lo ao blog

Esta perturbação momentanea, vai passar, não fiques preocupada.
Um beijo

Avó do Miau disse...

Olá, voltei para ver as actualizações de desejar uma óptima semana!

João disse...

Olá minha linda nina

lince disse...

Este teu espaço intimida-me. De belo, de profundo.
Muitos parabéns a ti.

Anónimo disse...

muy bello escrito, gracias por tu visita :)

Anónimo disse...

Nina, asidua lectora de Mixtu y Viceversa, toda una poetiza, ya había viitado tu blog, más no había comentado.

Saludos

Zé Carlos disse...

Ni* querida, diante desta beleza que postou não consigo fazer mais que citar grandes que como ti nos fizeram sonhar:

"Saudade mata, é verdade, mas desta morte me esquivo. Como morrer de saudade se de saudade é que vivo?"
*Osmar Barbosa*

Se eu pudesse dizer o que nunca te direi, tu terias que entender aquilo que nem eu sei!"
*Fernando Pessoa*


Tu sabes muito bem o valor e a dor da saudade..... bjs do amigo...

Ni disse...

Gostaria de responder um a um...
Gostaria!
...

Mas sorrio e canto ao ritmo da canção de Paulo Gonzo:

'Faz-me tão bem, faz-me tão bem, quando demonstram a vossa amizade, como ninguém...'

O meu abraço. Aquele especial, dançado, que nos trespassa e tem aroma de lírios e embalo de mar com travo a fado...

Ni*

Sara MM disse...

ora aí está uma bela letra para um música :o)

BJs e ... parabéns atrasados!!!
:o)

Mac Adame disse...

Ora, nada de novo por aqui, ainda... Não faz mal. Intrometo-me outra vez para avisar que, no que me diz respeito, podes subscrever tudo o que quiseres. É uma honra para mim.

APIUR disse...

Uma boa noite,
(só assim, tão só, para me redimir do longo texto anterior),
bjs
Apiur

Joana disse...

Querida Amiga,

Deixei um desafio para ti no Ponto Jota.
Sei que tens sensibilidade para me surpreender e me deliciar! ;)

Beijinho grande e abraço apertadinho...enorme, enorme!

Fragmentos Betty Martins disse...

Querida Ni

Um grande beijo

☆Fanny☆ disse...

Ni*...

SAUDADE...esta palavrinha que se aloja no nosso coração e nos deixa tantas vezes verter uma lágrima rebelde...lágrimas de emoção que nos lavam a memória e avivam as lembranças.

E neste voo aos secretos caminhos do coração, a nossa alma sorri, mesmo que seja um sorriso de "ausências".

Ni*...mas há uma saudade... tantas vezes enigmática em nós...aquela falta que nem sabemos bem o que é...ou de quem seja. O vazio impera... as lágrimas escorrem nos olhos da alma...

Sabes? Hoje lembrei-me de ti, não como minha amiga, minha colega de profissão, mas sim como uma GRANDE MULHER que eu tenho a honra de conhecer e partilhar tantos momentos da minha vida!

Obrigada por me dares a tua mão nesta minha caminhada da existência.

Abraço-te com muito carinho*

Fanny

Zé Carlos disse...

Ni* um abraço forte com todo sabor da saudade.....

SpiritMan aka BacardiMan disse...

Pensamento, emoção, palavra... e a saudade, saudade esta que também nos ajuda a crescer, a gerir e no fundo... a viver melhor para... curtir?! Rimou alguma coisa? Espero tenhas compreendido!

Cumprimentos mixed by Jameson 12 anos!

Anónimo disse...

Hola.
Saudade.
La palabra portuguesa y gallega que atravesó los mares, el tiempo y a los hombres
Cumprimentos desde España.

SAUDADE

Autor: Pablo Neruda

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já ...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida ...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais ...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam ...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por
quem sentir saudades, passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido ...

SAUDADE

Autor: Pablo Neruda

Saudade —¿Qué será?... yo no sé... lo he buscado
en unos diccionarios empolvados y antiguos
y en otros libros que no me han dado el significado
de esta dulce palabra de perfiles ambiguos.

Dicen que azules son las montañas como ella,
que en ella se oscurecen los amores lejanos,
y un noble y buen amigo mío (y de las estrellas)
la nombra en un temblor de trenzas y de manos.

Y hoy en Eça de Queiroz sin mirar la adivino,
su secreto se evade, su dulzura me obsede
como una mariposa de cuerpo extraño y fino
siempre lejos —¡tan lejos!— de mis tranquilas redes.

Saudade... Oiga, vecino, ¿sabe el significado
de esta palabra blanca que como un pez se evade?
No... Y me tiembla en la boca su temblor delicado...
Saudade...

Anónimo disse...

gostei!